Mais que não seja pelo facto de não sermos eternos, é irracional eternizar conflitos. Podemos não compreender, não esquecer o desperdício the tempo que significaram nas nossas vidas que, mesmo não sendo nós hedonistas e tendo, pelo simples facto de vivermos, o nosso quinhão de contrariedades, podemos considerar invulgarmente felizes...pelo menos até à data.
Olhamos para trás e vemos lá no início das nossas vidas - quando várias circunstâncias podiam fazer prever o contrário - uma infância extremamente alegre e feliz, a que se seguiram décadas de um amor/amizade doce e aconchegado, sem frustrações ou perversidades que afectassem a alegria da nossa casa, um tempo de realização pessoal inesperadamente bem sucedido, amizades que haveriam de nos acompanhar, amores de gente a sèrio que "sabiam bem" mas que se passavam com pessoas como nós, que não atropelavam nada para chegar aos "finalmente" que sabiamos morarem em outros lugares., a alegria de termos conseguido educar os filhos para o mundo onde iriam viver - e não para um lugar imaginario onde se mascarariam de algo que nos satisfizesse a ambição social - e onde constituiriam as suas própriias famílias com gente decente, cujos nomes não andassem nas paragonas dos jornais pelas piores razões, gente nossa que, por mais que nos distanciem questões de critérios, vemos florescer discretamente nas vidas de outras gerações que para sempre serão nossos descendentes.
Livremente, fizemos sempre as opções que racional ou intuitivamente, foram o agir da nossa liberdade sem que nisso interferissem outros critérios que não aqueles que conscientemente receberamos, questionaramos e adoptaramos. Depois disso, obviamente, não iriamos, já velhos, negá-los ao sabor das circunstâncias, apenas porque não reconheceram em nós aquilo para que em casa nos fadaram e que nos roubou o precioso tempo para cultivarmos os dons com que Deus - proscrito ou não da nossa vida - nos dotou.
As nossas vidas, por mais banais ou condicionadas que possam parecer, estão quase sempre recheadas de acontecimentos inesperados, tanto no tempo como no espaço. Mas acontecem, e não vale a pena chorar sobre os cenários "cor de rosa" - como os horrosos lençóis às florinhas dos supermercados que, penso, com um bocado de sorte acabarão por ficar brancos depois de umas passagens pela máquina...- porque a vida é como é, uma paleta colorida inspirada no arco-íris, e pode sempre acontecer que alguém abra a paleta fora do "cor-de-rosa" (côr que não existe porque as rosas, até elas, são de cores várias) e, despidos dos óculos tingidos de rosa não consigamos fitar a Luz clara da Verdade. Pecado de quem limpou as lentes? Talvez! Pecado de quem no-las ofereceu? Não interessa!
O essencial é que todas as histórias têm uma conclusão, tanto em fitas coloridas como a preto e branco. E há que ter a coragem - palavra que ouvi gritada hoje numa despedida - de colocar o ponto final. Os episódios, interessantes que possam ser de seguir, como muitos outros, passam-se num país que não é o nosso, para onde o personagem central emigrou, lugar que desconhecemos e onde reiniciará, embora tarde, uma nova vida - será nova??? - com outra linguagem, outros interesses, outras crenças, outra ética, outra estética. Um lugar lá longe que não poderiamos, ainda que quisessemos, alcançar e que não desejamos conhecer.
O outro, o que morreu quando partiu os óculos cor-de-rosa, ficará para sempre no nosso coração. Saberá sempre onde nos encontrar "se" ou "quando" a única pessoa, ou coisa que ainda o ligue ao tempo perdido - a Fé, a admiração por um homem que deixou dela em texto uma visão notável - desaparecerem ou falharem no meio desse mundo circense onde se acotovelam gerações, velhos pecadilhos, estratégias, projectos, vinganças, ambições e, talvez, esperanças e realizações. Contudo, nada disso jamais valerá o que de grandeza poderia ter sido!
Ao fim de décadas de um marasmo mais do que mediocre - que a "esquerda" não contesta porque sabe que a coisa começou canhota, e a "direta" aguenta porque reconhece a falta de destreza dos fulanos que, "faute de mieux", colocou em sucessivos governos e que continua a trazer ao colo devido aos "links"e interesses criados tão desajeitada e estupidamente que os escândalos explodem como minas - PORTUGAL é um país sem brio e ser português envergonha qualquer um que se aperceba minimamente das manobras com que se encobrem fragilidades e se alimentam jogadas eleitorais, num momento a que a maioria dos países já começam a pensar-se como países e não como tabuleiros de xadrez político.
Hoje, em desespêro de causa, tivemos uma coisa apelidada "The Lisbon Summit" - que foi em Cascais... - o que, traduzido para português significaria que em Cascais estava a ter lugar uma "cimeira", ou seja uma reunião de personalidades de topo para debatarem fosse lá o que fosse. Para isso foi convidado alguém do incontornável "Ecconomist" - revista ainda mais incontornável que os "incontornáveis" Santana e Vitorino que a SIC nos impinge -, e , além dos nossos do costume, uns tantos palradores de Língua inglesa para justificar que aquilo era mesmo um "summit" e não uma cimeira. Porém, fosse qual fosse o nome de baptismo, que se desse por isso - e corri os noticiários de vários países da Europa e fora dela - ninguém deu conta do evento. Contudo, graça lhes seja feita, vieram acudir, tentando pôr gelo na fervura que a oposição prepara à custa da ousadia grega. Talvez não tenha valido a pena, a não ser para as televisões domésticas que com isso preencheram os seus programas e, quem sabe, talvez tenham pago a conta...
O facto é que o Governo desdobra-se em asneiras, não tanto no que faz -porque provavelmente não consegue fazer melhor - mas nos comentários e em auto-defesas e agressividades eleitoralistas, não apenas contra a oposição como também contra o seu parceiro de coligação. Dá ideia que o supremo designio do Governo é garantir a vitória do PSD e o resto que ...se trame.
Que a Direita assuma o governo é o desejo compreensível de muitos portugueses que se revêm na tradição secular de um País que para se modernizar não se veja forçado a prostituir a sua identidade.
Mas não mais uma direita "à Cavaco" , uma "direita" de proveta - que nem direita é...- onde formiga uma mentalidade de lobby político/mediático que ameaça só terminar quando os sujeitos que por lá se fizeram desaparecerem, pela idade, do mundo dos vivos, ou porque o povo eleitor se fartou de tanto palavreado aliado a uma incontornável incompetência.
É certo que Socrates e Teixeira dos Santos deixaram o País no "prego" e que estes pobres coitados que ganharam as eleições não tinham competência para acudir a tal catástrofe, muito embora se tenham desperdiçado neste governo nomes que, ao serviço de uma política acertada - que não tivesse à frente como PM um produto das "jotinhas" que discursa e esbraceja como um ditador e governa como um pedinte- teriam decerto feito aquilo que sem êxito têm vindo a tentar.
É o caso dós ministros da Saúde e da Educação, e seria o caso do da Economia se o CDS não fosse permanente e subrepticiamente estigmatizado pela maioria PSD.
A verdade é que não temos um partido de Direita nem temos à Esquerda alguém com o nível do ministro grego que, por maior que possa ser a derrota, se atreveu a enfrentar a "europa" do dinheiro. Louçã poderia tê-lo feito e dificilmente se percebe porque se distanciou da política. A menos que punhamos os olhos no que sobrou do BE...
Passos Coelho - cujo ritmo discursivo, misturado com o vazio argumentativo e com o espanejar de mãos se tornou insuportável - não irá deixar vitórias ou derrotas e nem sequer saudades.
A menos que a "europa" lhe pegue para um daqueles lugares de "testa de ferro" em que os países evitam comprometer nomes seus, Step Rabit está politicamente arrumado
Devo confessar que o facto de os supermercados passarem a cobrar os sacos de plástico foi algo que me deixou confusa! Custa perceber como só causam dano ao ambiente - visto que tudo o que embalamos nos super, das frutas aos legumes passando pela carne e o peixe, vem em sacos de plástico os sacos de plástico fino com asas!
Ontem, num café de referência do meu bairro, ouvi contar uma história por um grupo de jovens, entre gargalhadas.
Segundo eles, um relações públicas de uma multinacional de sucesso, sentindo instável a sua posição e baseando-se em informações recolhidas numa operadora de caixa, resolveu levar a peito o assunto. Com isso, e usando das múltiplas relações adquiridas no lugar que ocupava, teria adiantado uma sugestão que agradou simultaneamente aos donos dos estabelecimentos - passaram a vender o que ofereciam... - , ao Governo - que cobra mais um imposto sem meter as mãos na massa - , ao PSD - partido da sua esperança e aos inocentes Ecologistas.
Grato à operadora de caixa, tê-la-ia, segundo eles, nomeado sua contabilista, sua empregada doméstica, sua motorista , sua namorada - não foi bem este o termo por eles utilizado... - e o que mais revelassem os seus dotes. Em troca, além da promoção social, pagava-lhe com umas habilidades que aprendera nos lugares próprios e a promoção social possível, dadas as circunstâncias. Tudo gratuito!
A ser verdade, que Deus ajude a pequena! É muita função por tão exigua paga!
Em plena Quaresma não será descabido lembrar a tentativa feita pelo demónio oferecendo a Jesus todas as riquezas do mundo se ele provasse que a protecção divina o isentaria de quaisquer danos por maior que fosse o risco assumido. Na minha nada teológica interpretação - não tenho formação para tal - Jesus não terá aceitado não apenas por uma questão de humano bom-senso como pela transcendente certeza de que a sua condição divina - e d'ela todos temos um pouco... - não se coadunava com desafios entre o Absoluto e o efémero.
Vem isto a propósito de uma meditação que li há pouco sobre a sociedade em que nos calhou viver, em que o imediato atropela o sentido das coisas e o Absoluto é um oito deitado onde repousa o infinito matemático. Porque será que somos assim e nos vamos "aperfeiçoando" neste estilo de vida onde a mentira prolifera e consegue mostrar-se como chave do êxito?
Creio que um dos motivos é uma educação fundamentada nos princípios do século dezanove em que o paradigma era uma burguesia sem pertença, que se queria longe das suas mais modestas origens e se esforçava por ser aceite por uma aristocracia que fora forçada a optar entre a ruina e a tolerância. Uma educação que estipulou como príncipios básicos três "mandamentos" - que infelizmente ainda vigoram...- que funcionavam como prevenção contra aquele mundo por eles organizado. Eram eles:
1 - se o acusarem de alguma coisa negue sempre mesmo que seja verdade
2 - se fizer uma asneira não se desculpe nem emende. Persista na asneira até que ela seja aceite como apenas algo de diferente e empenhe-se em que tenha êxito
3 - nunca julgue os outros - a menos que seja dentro do seu círculo...- para que não dê aso a que o julguem.
É nesta base que foi educada e procede grande parte da sociedade que temos. Uma sociedade que vive da sua astúcia , do receio e da ignorância alheios , e que prolifera em épocas de extrema vulnerabilidade.
Perguntamo-nos muitas vezes como tantas fatalidades, a que também não estamos imunes, recaem numa violência que confrange sobre famílias inteiras: doenças raras, acidentes, casamentos inadequados, divórcios, comportamentos desviantes, tudo parece confluir e, com pena misturada pelo receio de que venhamos a ser dos atingidos, damos por nós a pensar o porquê de tanta desgraça sobre gente que consideramos, tal como Job, "justa e temente a Deus".
Como poude Javé - que não é ainda o Deus compassivo que envia o seu filho para conviver com as misérias do mundo - consentir que o diabo se apossasse não da integridade física de Job mas de todas as suas conquistas: família, bens, dignidade, consideração dos amigos? É um mistério que persiste mesmo atendendo ao fim feliz, embora algo precipitado, que o Livro lhe atribui.
Seria Job perante Deus aquele homem que , em ambas as situações, era perante o julgamento dos homens? Como teria Job chegado até ali, ainda que tendo apenas consciência do que de bem fizera e ignorando tudo o que o não fora? O largo tempo de introspecção que Javé lhe concede - e durante o qual Job enceta monólogo com Ele - somado às desgraças que o atingem é suficiente expiação para podermos acreditar que Javé o tenha recompensado.
Na nossa "linha da vida" deparamo-nos com casos semelhantes, ainda que sem essa dimensão biblíca . E o que sempre nos espanta é a reacção, mais social do que intíma, que leva os homens a desfiarem Deus, repetindo erros, ignorando sinais. Como se dissessem: "Aceito com humildade o que me dás mas vou provar-te que a minha força me permite contrariar o que aparenta serem os teus designios. Negarei a verdade até que ela seja aceite, insistirei nos erros que não terão merecido a tua aprovação até que se transformem em vitórias, ignorarei dos outros o direito de me julgarem. E ninguém, mas ninguém, tenha pena de mim!"
A verdade porém é que, sendo um procedimento socialmente correto que apenas poderá ser punido pela justiça de homens igualmente vulneráveis - que pode ir desde a punição social "tout court" à prisão perpétua ou à pena ee morte - outros há que transcendem a justiça dos homens e que decerto reacenderão vezes sem conta o monólogo de Job.
Estamos de ingresso em mais uma "saison politique", daquelas com que o fim da malfadada ditadura do fascismo nos brindou. Como tudo então era monótono e nós nem sequer nos apercebiamos disso! Nós, um povo que tem provado ser tão atento, incapaz de se deixar ludibriar, pronto a todos os sacrifícios - e até inimagináveis aldrabices! - para não perdermos a nossa independência e prontos a escolher e pagar sem regatear a quem nos governasse! Hoje, fnalmente, passados quarenta anos, mais do que Portugueses somos "europeus"! E somo-lo graças a estes incansáveis líderes que não se pouparam a esforços nem a despesas para que conservemos o orgulho da estirpe!
E eles aí estão de novo! E, como é de seu natural - a grande maioria jamais teria saido da mediocridade das suas vidas mais ou menos confortáveis não fora o seio acolhedor da República abrir-lhes os braços (não sei se repararam que a imagem que a representa exibe os seios prometedores)- jogam, em idades pré e pós reforma, as suas últimas cartadas! It's now or never!
É certo que nenhum, a avaliar pelos resultados, tem um prestigioso curriculo governativo que. sabemo-lo, se construiu de entendimentos, favores, expedientes em que, atendendo aos resultados, o país se manteve sempre na retaguarda dos partidos. Serviram-se do país para engrossarem os partidos e com eles dominarem instituições e delinearem os seus próprios futuros - ao contrário do terrível Salazar todos saem bem de vida - e, "with a little help from their friends", construiram esta maravilhosa sociedade com que os noticiários, cada um a seu jeito, nos confrontam diariamente, usando mesmo o irracional para convencer o povo do bem que deve a quem governa e do mal que se prepara na oposição que, diga-se, não deu provas nem promete ser melhor.
Os velhos - os tais que rondam a reforma (como se isso existisse para eles a não ser na disponibilidade que lhes proporcionam para ganhar mais uns cobres em outras actividades...) - já iniciaram a saison como comentadores a soldo de uma qualquer televisão; os novos, os talentosos novos que nos têm governado e que não beneficiaram da educação, instrução ou outra preparação profissional que não fosse o prometedor colo das juventudes partidárias, aprenderam sozinhos a arte de mentir. Mentem como ninguém! Mentem tão bem que, como dizia o Aleixo, sabem meter sempre uma ponta de verdade - cuidadosamente retirada de um qualquer contexto internacional, dos poucos que de nós falam, que dê para arrumar um elogio) nas mentiras que dizem. E fazem-no subtilmente, pela negativa, dizendo o que "nós não somos" e que poderiamos ser "se" nos comportássemos como eles. Mas nós somos nós e, actualmente, sendo nós não somos nada!
Vale a cada ser deste maravilhoso, sofredor e crédulo Povo de santa Maria, o que Deus pôs e vai renovando sem promessas. Apenas fazendo. Fazendo com que o sol nasça e ilumine as eiras, estejam elas cheias ou vazias, tire do interior da Terra o prometido Sangue, abençoe "as fontes e as borboletas que enfeitam as matas". E é aí - e não nos sacos de plástico, nas idas e vindas de essas criaturas palradoras a quem a Elsa Levy ou qualquer outra ensinou as pausas e as frequências exactas do discurso que se quer convincente ainda que nulo no conteúdo, nos desengravatados que por aí se identificam com um povo imaginário que pode queixar-se de não ter emprego, não estar satisfeito com a Educação, lamentar a qualidade dos serviços de Saúde mas que, acima de tudo, É PRECISO QUE VOTE "neles" que, para tal, vão começando a, como convèm, desprestigiarem-se mutuamente.
E o "povo", a maior fatia do indíce demográfico, votará de novo na esperança mesmo que saiba obscuro o seu lugar. E votará onde lhe disserem que é "útil" mesmo desconhecendo-lhe a utilidade.
Hoje - tal como vem acontecendo em vários países e regiões do mundo - o "fillet mignon" foi o terrorismo.
Portugal, graças a Deus e ao facto de só termos uma fronteira terrestre, não tem sido um lugar onde o fenómeno se tenha manifestado. Mas é sempre melhor prevenir do que remediar e, entre o susto como nos é mostrado o atrevimento grego, os problemas reiteradamente exibidos sobre o estado de saúde da Saúde, e a grave ameaça de ataques terroristas - com que finalidade? -, a sua passagem, ou o acoitarem-se aqui de armas e bagagens para os seus aguerridos destinos, ninguém tem disposição para ouvir os complicados discursos do Núncio sobre a "simplificação" dos impostos, nem a ministra da Justiça e uma outra triste senhora que a acompanhava dissertarem sobre as medidas a tomar, medidas que, ao que parece, além de dividirem as forças de Segurança se estendem muito para além da questão que os motiva.
Acima de tudo, há que pensar antes que se comecem a prender pessoas a quem tudo, mas tudo, foi permitido dizer e fazer como sendo uma conquista da democracia, tendo como motivação questões meramente políticas. E disso ninguém se safa!
Lembro Strauss-Khan quando à saída do Carlton, creio, foi abordado pelos jornalistas confessar que tinha tido medo, "muito medo" , quando o foram buscar ao aeroporto. Não faço ideia o que terá acontecido à empregada do hotel - bem de vida estará concerteza...- mas SK, que se remeteu ao silêncio (ele lá saberá porquÊ...) continua a ser julgado, não por uma fraude ou uma questão política mas por uma questão moral que leva a que uma série de mulheres se exibam de tronco nú, como protesto, apenas porque talvez não tenham tido acesso aos incríveis e nojentos episódios pornográficos televisionados em que as mulheres são usadas das mais vis maneiras. E, curiosamente, também são pagas!
Para já, acima de tudo, seria importante que o Governo definisse concretamente o conceito de "terrorismo" e a abrangência que lhe atribui. A "saison", que coincidirá com a Primavera, ficaria melhor elucidada. Que é decerto o que se pretende!
Temos um novo e simpático Cardeal a quem, por ele e por nós católicos, desejamos as maiores felicidades!
Na oportunidade, atrevo-me a deambular um pouco pela condição que é a de muitos de nós.
Dizia Ghandi que tudo o identificava com a doutrina de Cristo e que só não era cristão devido ao que conhecia dos cristãos. Creio que muitos cristãos, sem deixarem de o ser, partilham da convicção de que, através dos séculos, o comportamento dos cristãos não foi, mais vezes do que o desejável, algo que os distinguissde de forma positiva de outras convicções religiosas.
Apoiado num moralismo herdado da tradição hebraica - no seio da qual Jesus tinha nascido mas contra a qual se rebelara - o seguir Cristo transformou-se numa doutrina com tanto de rigidez nos princípios como de ilimitada tolerância nos fins e nas práticas que a eles conduzem.
Quer a revolução francesa, quer a revolução industrial tal como a implementou a sociedade inglesa - ambas emergentes de sociedades cristãs de enorme relevância na Civilização Ocidental que, quer se goste ou não, é de matriz cristã - denotam, já em épocas de avançado conhecimento social e científico, uma extrema falta de sensibilidade que não bebia do tão propalado moralismo mas dele se servia para a encobrir.
Os valores de Liberdade, Igualdade e Fraternidade - proclamados tardiamente pela revolução francesa, visto terem sido defendidos havia mais de mil e setecentos anos por Jesus Cristo, que em si concentrou todo o custo dessa pretensão - fizeram vir ao de cima, sob o ténue véu de uma justiça social que até hoje, independentemente dos regimes, não temos visto ser possível implementar, os mais negativos sentimentos que ferem a nossa humanidade.
A resplandecente época vitoriana, que partindo de uma invenção que, ao que parece, os chineses já conheciam havia três mil anos sem que lhe dessem aplicação para não menosprezar o valor do operar humano em favor da operacionalidade da técnica, travestiu de públicas virtudes os vicios privados que permitiram a criação de um império sobre o qual o Sol nunca se punha, e deu asas a uma economia desumana que, com o tempo, viria a alienar-se do mundo e a perder-se na sua própria grandeza.
Lembro-me de um francês, que tive como professor na faculdade, dizer que os dois momentos cruciais da história da Civilização Ocidental teriam sido a queda de Constantinopla e a revolução Russa. Não tenho condições, por falta de conhecimentos de suporte, para confirmar ou contestar essa afirmação. Contudo, toda a minha intuição vai no sentido de a aceitar como verdadeira. Terão sido, penso, duas graves mutilações no seio de uma civilização construida numa solidez de princípios que se confrontaram e que, curiosamente, o fizeram na convicção da defesa intransigente desses mesmos princípios.
Qualquer destes momentos históricos deu lugar a especulações - e digo-o no bom sentido...- que acabariam por confundir, numa versão empobrecida pelas realidades que geraram, o poder dos homens com omnipotência de Deus, atribuamos-lhe nós o nome que quisermos, já que Deus "É o que É" e, religiosos ou laicos, acreditando nos astros ou nos karmas, chamando-lhe destino ou fado, a verdade é que haverá algo de materialmente inatingivel que nos faz nascer "assim", viver "assim", morrer "assim", ainda quando consideremos que tudo termine quando o nosso pó alimentar a terra e um espírito hegeliano algo recolha da nossa duração.
A Igreja Católica - dois mil anos de história plena de cambiantes sobre os quais só inconscientemente nos atrevemos opinar - vive um momento complicado, que se compagina com o tempo complicado que é o do mundo em que se insere e em que nada é fácil porque a Razão se desdobra em razões que tornam argumentativamente contestável em nome de um volátil presente tudo o que é passado, e têm como rumo para um futuro desejado bases meramente experimentais que dificilmente alguma geração irá ver concretizadas e, consequentemente, elaborar uma opinião sobre este "fazer de vida".
O Vaticano conheceu nas últimas sete décadas - apesar do longo pontificado de João Paulo II - uma notável variedade de tendências, reflexo talvez das diferentes "escolas monásticas" que maior influência tiveram nas suas ascenções à cátedra de S. Pedro. Os mais conservadores - nos quais me incluo... -, convictos de que tudo deveria ser feito em prol da glória de Deus, incluindo a grandiosidade litúrgica que nada roubando aos homens antes os engloba nessa grandiosidade, têm como referência papas que procuraram conciliar as exigências de uma vivência cristã, em que é pedido que se ame o proximo como a nós mesmos (partindo do princípio de que, agraciados com o dom da vida, amamos o nosse eu e investimos no seu aperfeiçoamento), com a infinita grandiosidade da transcendência para onde dirigimos o nosso olhar.
O Concílio Vaticano II - numa leitura intencional que Ratzinger terá considerado algo livre e por demais terrena - vem procurando, na melhor das intenções, alterar a direcção do olhar da Igreja: num mundo que - vá-se lá saber porquê! - se ambiciona "laico" , ou deus anda pelo meio dos homens na terra onde eles começam e acabam - não como o fez Jesus no iluminado e limitado espaço mediterrânico, mas na confusa mélange social do "mundo global"(?) em que a grande ambição parece ser a conquista das "vitórias" que censuramos nos outros - , ou é apenas um acessório cultural, com um compêndio moral ad hoc e respectivas normas jurídicas, que, tristemente, uma considerável parte usa em prejuizo de uma ainda mais considerável percentagem.
Creio que, mesmo repudiando "Charlie", qualquer das perspectivas deva ser livremente assumida e defendida mas jamais agredida!
Porque se é certo que os mais frágeis e desprotegidos precisam de uma Igreja com força suficiente para os defender, também necessário se torna que entre os que, honesta ou subrepticiamente, se servem da Igreja em benefício próprio, retirando proventos ou obstaculizando acessos aos que não sabem ou não conseguem movimentar-se nesses meios, estejam sacerdotes que os encaminhem a eles e aos bens de que usufruem no sentido da partlha de que eles, sendo quem são, com as suas idiossincrasias, serão capazes. Não podendo, ou nem sequer desejando vencê-los, que haja quem se junte a eles e, conhecendo-os e às suas fragilidades, seja capaz de os respeitar e ajudar.
Que o nosso Cardeal Patriarca, Senhor Don Manuel, cuja ascenção ao lugar que ocupa foi para mim uma enorme alegria - tal como o terá sido para todos aqueles que acreditam que ser cristão é ser homem entre os homens tendo Cristo como referência e exemplo e procurando a nossa perfeição no mistério da sua divindade - nunca esqueça, nem por um momento, que a miséria não está só onde habita a pobreza, e que a necessária transfiguração não residirá talvez numa certa indigência do aparato litúrgico, como o papa Francisco parece defender, mas no evidenciar da limpeza de, como poeticamente disse Sophia Melo Breyner, os "túmulos caiados onde repousa por baixo a podridão". E hoje, perante uma imparável insatisfação no que à amoralidade diz respeito, há que abrir caminhos de verdade em que as intenções se revelem na pureza que lhes atribuimos. Creio que a Igreja só beneficiará se se envolver criteriosamente, e o menos possível, com os meios de comunicação social, onde o dinheiro e as audiências que o alimentam deixam cair nódoas ou perfumes sobre pessoas e instituições consoante as suas conveniências.
Que o Espirito Santo o ilumine, e acompanhe todos os que consigo decerto, implicita ou explicitamente, trabalharão em prol de uma comunidade católica que se quer ver singrar não apenas em quantidade mas na qualidade , e em que uma juventude emergente nos enche de esperança, apesar dos enormes desafios e solicitações, por vezes tão negativas, que uma implosão desenfreada dos "mídia" lhes faz chegar e que as circunstâncias sociais favorecem negativamente.
Hoje estamos todos de parabéns. Não só em Portugal como na comunidade lusofona e nos remotos lugares que o papa achou por bem distinguir. Que Deus ajude e o espírito cristão acompanhe este nosso mundo que finge ser laico... ao serviço de outras religiões!
Vivemos numa espécia de sono em que o sonho alterna com o pesadelo e em que corremos o risco de não distinguir entre ambos, tal a confusão gerada pelas ilusões com que os envolvem e que inviabilizam qualquer esperança de conhecero grau de identidade - se algum... que poderão ter com a verdade.
Aquilo a que chamamos "mundo" mudou muito, há já bastante tempo e de forma subreptícia e acelerada.
A "realidade", tal como a aprendemos e na qual decorriam as nossas vidas é hoje uma virtualidade. Nada, ou muito pouco, daquilo em que nos fazem crer, é real no sentido em que nos habituámos a identificar a realidade com a verdade dos factos.
E isto não decorre apenas da perversidade dos actuais ou potenciais detentores dos vários poderes, mas mas do modo como eles se relacionam entre si, numa vastíssima sociedade secreta que abarca no seu mutante secretismo todas as até há pouco consideradas "sociedades secretas". De vez em quando atiram-nos com uma nova "sociedade secreta" - caso de Bilderbeg - divulgada pelos próprios para que haja um osso democrático com que se entretenham os povos enquanto a Grande Sociedade Secreta Mundial trata de coisas sérias, das que nem os seus membros ainda têm perfeito conhecimento mas segundo as quais visam, com a multiplicação dos meios de que dispõem - e que, curiosamente, são os mesmos de que dispomos mas acérrimamente vigiados e controlados pelas mais diversas instâncias desse obscuro Poder - criar um mundo que os satisfaça a todos. Pretensão grandiosa e impossível que, muito provavelmente, terminará numa guerra em que se degladiem o real humano e as virtualidades da técnica.
É frequente quando alguém menciona um facto socialmente mais transcendente alguém dizer: "Este anda a ver muita televisão... E, contudo, muito do que nos chega nas séries da Fox e em vários documentários que, "et pour cause", só passam quando quem trabalha já se recolheu, descodificam muito dos processos que conduzem a factos "inexplicáveis" com que a comunicação social nos confronta diariamente e para os quais, segundo os nossos valores e imagem que guardamos de uma realidadee que já não o é, não encontramos explicação. Impotentes, lamentamos a proliferação desses factos e seguimos em frente sem nos apercebermos dessa nova realidade e da virtualidade que é viver numa sociedade há muito extinta.
A verdade é que a WEB não é apenas uma rede de pescar que alimenta a publicidade, mas uma rede de prender,de malhas cada vez mais fechadas, onde cada um de nós é, sem que disso se aperceba, um nó em linha com uma infinita e incontrolável infidade de ligações. Somos, sem nos darmos conta, os mensageiros de tudo o que, de melhor ou pior, os que tecem a rede nos deixam capturar. E fazêmo-lo sem certezas, Apenas com suspeitas, porque o mundo deixou de nos merecer confiança e já nos habituámos a viver com isso.
Sabemos que enquanto escrevemos alguém nos vai lendo, que as comunicações de voz são quase públicas e mesmo gravadas, sabemos, porque a verdadeira realidade assim o exige, que, para nossa segurança, vivemos sob aturada vigilância. A liberdade, tão valorizada e proclamada como valor primordial, reduz-se à liberdade de um Charlie.
Daí a saudável necessidade de, por uma questão de consciência, nos alhearmos do que apenas existe porque nos dizem, dos que afirmam fazer opinião, dos que, manhosamente,afirmam ser seu desejo dar-nos espaço para pensar (como eles, claro!), dos que se pavoneiam de gravata roxa ou de qualquer outra cor no intuito de irem criando a sua própria rede, rede que, ignoram eles, será apertada pelas fortes malhas das circunstâncias.
O que se passou agora na Grécia, seja qual for o desfecho, foi a tentativa de um Povo que descobriu as virtualidades da inteligência de provar que há quem creia que a realidade, por pior que seja, ainda é possível. Aquilo é verdade!
Por cá congregar-se-ão linhas partidárias, ideais, movimentos, circulos, e os habituais topa-tudo que nunca desperdiçaram um contacto e que, subservientemente, se disporão a po-los ao serviço de todas as causas. Porque já não é de ideiologias que se trata, nem sequer de ideais. É de Poder que se trata e daquilo que o alimenta. É essa a motivação que faz emergir insuspeitas colónias de prestáveis servidores.
Não é de espantar que a Religião regresse ao papel que sempre teve na vida das comunidades humanas. A Religião é, em si, a essência do transcendente, do que não precisa ser explicado nem útil porque é inerente ao Homem, iniciático e alheio a todas as entropias que os séculos e o conhecimento acumulem.
Magoa ver atacar qualquer religião ainda que não seja a nossa. Mais magoa assistir à falta de empenho com que defendemos a nossa! Como se tudo se reduzisse à tolerância, ao acolhimento do inimigo, à prática programática - e tantas vezes duvidosa - do bem, a duas ou três das vinte e quatro horas do dia a pedir ou a agradecer a Deus. Que se passa nas outras???
O título vai em francês, a lingua de "Charlie", para dar um ar mais culto ao tema e, para cheirar menos mal, acrescente-se-lhe um perfume YSL. Infelizmente, nada disso poderá alterar a repelência contida nesta triste realidade!
Pus-me a pensar - penso muito (é de graça..), vejo notíciários e leio jornais e revistas de todos os países cuja Língua conheço - e, depois de muito meditar cheguei à conclusão que já não vale de todo a pena pensar em termos de "Mundo", "Humanidade", "Universo"e outros conceitos que na sua vastidão envolvem uma imensidão de subsistemas através dos quais chegam às nossas vidas e nos dão cabo do sistema nervoso.
A verdade é que já não vale, de todo em todo, a pena termos a pretensão de mudar o mundo e nem sequer a de alterar o que nos vêm querendo fazer crer - os que julgam que mandam, apesar de também eles estarem enganados...- que depende de nós. Já nada depende de nós, seja qual for o "nós", há que tempos| A única coisa que podemos e devemos fazer é abstermos-nos de tudo aquilo que, em termos de justicações estatísticas, sirva para apoiar as breves e arriscadas ilusões de poder com que brincam alguns indivíduos e as cadeias de subserviência e ausência de escrupúlos que os apoiam.
Aquilo em que pensamos quando falamos de "mundo" está fora de todo e qualquer controlo, e aquilo a que assistimos é à busca feroz e incessante em que povos, raças, tribos, classes e instituições se empenham para encontrarem os seus caminhos e demarcarem as suas áreas.
Daí que a tão amada palavra "democracia" - um conceito que inocentemente os gregos inventaram e onde tem cabido tudo o que a contemporaneidade lhe tem querido meter dentro - comece a perder terreno em favor do "delivering", conceito mais inclusivo mas incomparavelmente mais difícil de promover em qualquer das suas várias vertentes. Resumindo: a globalização no seu melhor, propondo-se como solução a um mundo onde tudo caminha em sentido contrário, em que as convicções de pertença estão cada vez mais presentes e arreigadas. Não vai dar! Ainda que seja a ONU a vendê-lo! Não vale minimamente a pena levar isto mais a sério do que às comissões de inquérito com que por cá a oposição entretem o tempo.
Outra coisa de que é urgente abstermo-nos é de tudo o que for feito para "as massas": programas de Tv, festivais, concursos, "futebóis", telenovelas, etc.. Tudo isso visa criar-nos preocupações fictícias que nos impeçam de pensar em temas que, se pensados, tornariam turbulentas "as massas" - reacção altamente improvável em povos de brandos costumes - e nos mantêm entretidos enquanto "eles" (sejam quem forem "eles"e pelo tempo que forem) se entretêm com o exaustivo jogo de nos enganarem a nós, se enganarem uns aos outros, enganarem-se a eles próprios.
No meio de tudo isto começa a ser importante ter em conta a "inteligência artificial" que, não sendo propriamente uma novidade - já se trabalhava nisso na Alemanha dos anos trinta e já está presente há muito em diversos utensílios mais ou menos sofisticados do nosso quotidiano, embora sem tão científico título - começa a assumir tarefas bastante mais "invasivas" nas nossas vidas, na medida em que pode ser utilizada por qualquer estúpido a quem sejam fornecidas instruções comportamentais que ponham a máquina a agir como gente.
O tema, que tem vindo a ser tratado com alguma preocupação em vários media, comporta riscos vários para populações indefesas e desconhecedoras dessa possibilidade. É o caso do acompanhamento de pessoas sós, doentes, idosos, pessoas de todas as idades com grande necessidade de interrelação, como os quase obsessívos frequentadores da web. Respostas psicologicamente estudadas para os diversos perfis e necessidades poderão ser automatisadas e, para o bem ou para o mal, viajarem pelo espaço sem que seja possível atribui-lhes uma responsabilidade pessoal. Estudado, ou escolhido, um determinado perfil é possível ganhar a confiança dessas pessoas através das respostas adequadas aos seus desejos ou preferências. Isto, parecendo não ter grande importância, pode ser altamente nocivo, inclusivamente no que respeita comportamentos sexuais com menores - é tão possível ser pedófilo através da net como em contactos físicos... - já que do discurso erótico ao discurso sexual vai uma ténue distância que as pulsões se encarregam de eliminar. Acresce que a coisa funciona, ainda que independentemente da imagem real, que ganha contornos ideais na imaginação do outro. Um moço atarracado, com o estomago a cair-lhe por cima do cinto ou uma rapariga despida do comum dos atractivos, podem ser jovens esbeltos e dotados de toda a espécie de atractivos para quem com eles se envolve numa relação que só é virtual devido à ausência sensorial, mas com uma intimidade que se solidifica e aprofunda, com todos os riscos que a habituação comporta. Abstenhamos-nos de amizades e "likes" com desconhecidos nas redes sociais.
Mais complicado, ou não menos perigoso, é o desenvolvimento celular da robótica que, teme-se, poderá acabar trabalhando contra os homens...como, aliás, tantas outras invenções subsidiadas pelos que têm capacidade financeira para o fazer e esperam por essa via dominar o mundo.
Aos drones, e às balas inteligentes que matam os homens mas poupam os edifícios, seguir-se-ão soldados/robot e outros do género que um dia darão aso a que se possa ser assassinado por um robot não identificado que não deixa impressões digitais nem sinais da íris, nem qualquer humano vestígio.
Posto isto creio que o que devemos fazer é vivermos como nos acostumámos a viver quando as nossas únicas ocupações eram a nossa vida e a dos nossos, quando a solidariedade se chamava caridade e ninguém fazia dela modo de vida, orientados pelas regras do Direito Consuetodinário, ouvindo as "nossas" músicas, sejam elas quais forem, mantendo os nossos hábitos de vida, especialmente os que não custam dinheiro, selecionando relações antigas, evitando confundir conhecimentos com amizades, e evitando até ao limite do possível a dependência das instituições, fontes de desorientação e descrença.
A privacidade - ao contrário do que se apregoa por razões de marketing comercial - é hoje o maior dos luxos!
Não alimentemos mais ilusões sobre o mundo apregoado nos desejos, intenções e conselhos dos internautas! Nada daquilo existe, ou existe apenas como raridade. As pessoas que os enviam podem até acreditar neles mas está à vista que apenas uma infíma minoria os praticará.
A verdade é que os mais velhos não aprenderam nada com a História e os mais jovens podem até saber muito de informática e serem experts nas suas profissões mas desconhecem-na, porque a História vende mal e não gera lucros.
Num mundo assim só nos resta retirarmo-nos! E fazê-lo honrando a Vida, permanecendo no pleno gozo de tudo o que ela nos proporciona apesar da intervenção multiplicadamente negativa dos homens.
Vem isto a propósito de uma ida a uma estação dos Correios para registar uma carta. Havia uma fila grande gente à minha frente e isso deu para observar todos os produtos que por lá estavam expostos. Espantou-me a quantidade livros e, especialmente, a qualidade "didáctica" com que se apresentavam. Todos, sobretudo todas, tinham conselhos a dar sobre a educação de filhos, ainda que fosse através da Astrologia, sobre os diferentes modos de encarar a vida nas suas diversidades e adversidades, sobre o amor, sobre tudo o que lhes vem à cabeça quando lhes dá para escrever. Mulheres decerto inspiradas pelos exitos que terão tido como mulheres ou como mães, o que lhes confere a missão de orientar as outras nesses caminhos.
A verdade é que ali estavam prateleiras e mesas cheias de conselhos - muito provavelmente insuflados em anos de psicanálise... - apelando ao lazer dos eventuais "clientes", num lugar onde seria de bom-senso e de bom gosto expor os nossos grandes escritores que, no meio desta avalanche de literatura que não tardará um ano sem que seja vendida a peso como papel para reciclagem, se distanciam cada vez mais do convívio com os leitores. Nomes como Eça, Aquilino, Raúl Brandão, Camilo, Paço d' Arcos, Ramalho, Pessoa - este, talvez pelo isoterismo que o envolve, reservado a tertúlias pessoanas - Pascoais, Fialho, e tantos outros grandes escritores e poetas de Língua portuguesa que são lidos em todo o mundo e que ficariam bem nos escaparates convidativos das estações de Correios. Acresce que o funcionário que me atendeu me deu conta da disputa levada a cabo por escrevinhadores e editores no sentido de os seus livros ocuparem os lugares mais chamativos. "Um inferno!".
A verdade é que escrever já não é mais uma actividade lúdica! Poucos são os que ainda escrevem cartas das que eram segredos sobre pensamentos, lugares ou sentimentos directos ao coração dos Amigos, e creio que menos ainda aqueles que mantêm um diário onde se vão dando conta do caminho percorrido, das suas esperanças, contradições, alegrias, desilusões. Hoje, apesar dos queixumes colectivos, toda a gente diz considerar-se heroicamente feliz ou em vias de o ser, e acha que deve partilhar esse estado de espírito - se tal se lhe pode chamar...- com os "infelizes" que, partindo da generalização do colectivo, andam por aí perdidos "à la recherche d'un heureux conseil".
Acontece que a edição tornou-se um modo de vida dos mais rentáveis e com menos empate de capital. Não me refiro, claro, aos Editores com um lugar já consagrado que nos leva a confiar no editado, mas a uma máquina editorial que se serve de tudo o que apareça escrito, desde um slogan de parede aos muitos textos, melhores ou piores, que circulam nas redes sociais. Tudo serve de inspiração a um qualquer "argumentista" que pega na ideia, dá uma volta ao texto para não parecer plágio, tira metade de um comentário do Face e completa-o com algo semelhante que leu no Twitter, recorre às estatísticas para conhecer a medida de "gostos" que merece, e temos romance! Caso valha a pena, põe-se o tradutor automático a funcionar, acrescentam-se na página de edição os nomes de dois ou três amigos como tradutores e revisores, e, caso o escrevinhador se ponha com exigências, pede-se a uma Editora que o aceite como subcontratado para ter direito a um lugar num livreiro.
O mesmo se passa com as publicações de imagens postadas nas redes sociais que, diga-se, se bem escolhidas dão ricas capas a pobres livros. Melhor ainda se "os business angels" forem chamados a colaborar através do aperfeiçoamento dos desenhos gratuitos dos internautas. Um negócio primorosamente montado, que não tem nada que o confunda com cultura, uma escrita feita pela máquina e para a máquina, a ciência da ficção em que, creio, o único que poderá ter algum encargo é o escritor desejoso de se ver publicado e aceder assim ao estrelato de um escaparate de um qualquer lugar de venda de jornais e revistas ou, se for bem relacionado, conseguir que um incauto empregado do livreiro lhe coloque o título entre os "top" mesmo que ninguém ainda o tenha comprado.
O panorama cultural português empobrece todos os dias! Seja sendo vítima de expedientes que banalizam pela quantidade o que deveria optar pela qualidade, seja, no inverso, pela falta de escolha de qualidade que os canais nacionais - os únicos a que a maior parte dos portugueses têm acesso - proporcionam. Alem dos noticiários - repetitivos, arrasadores de esperança ou vendedores de mensagens consideradas politicamente corretas pelos emissores - os programas são de uma impressionante miséria e vivem seja de uma espécie de lotarias telefónicas que muitos acharão convidativas, seja das oportunidades que são dadas aos participantes dos vários programas de gozarem o seu quarto de hora de glória.
Acontece, como vi hoje num qualquer noticiário, Catarina Vaz Pinto - mulher de Guterres? - dar-nos conta de algo interessante que tem que ver com o nosso passado, ainda que tratando-se da Sinagoga de Amesterdão, datada do sec. dezasseis, mandada construir pelos judeus portugueses e primorosamente conservada. Nisso se perdeu, contudo, a oportunidade de dizer que essa riqueza se ficara a dever à exploração das minas de diamantes e outras pedras preciosas levada a cabo pelos judeus no Brasil, com mão de obra angolana e guineeense, durante mais de um século, e que era comercializada na Holanda onde se concentravam os maiores lapidadores de pedras preciosas. Portugal, como sempre, pouco ganhou com isso. E o mesmo aconteceria com as minas de diamantes de Angola...
A verdade é que ninguém fala de nós! A preocupação com "a imagem" não deve inquietar-nos. Não há jornal ou revista estrangeira que se lembre que existimos, a menos que se trate de Ronaldo - com menção nas páginas centrais no ABC de Madrid -, ou do ex-misnistro Arnaud por algo que envolve as relações da política com a Banca internacional, com o BES pelo meio
Nestes tempos em que parece que tudo acontece mas em que, de facto, não acontece nada, vem-nos um certo apetite de darmos uma voltinha pela grande História da desfalecida Civilização Ocidental e procurarmos entender, na modéstia das nossas capacidades, esta longa sequência, eivada de desvios e reencaminhamentos, de medos e ousadias, de superstições que acabaram sendo determinantes e tidas como sinais que por vezes parecem estar para lá do humano.
Vem isto a propósito de um facto que sempre me intrigou e ao qual nunca ninguém me deu uma resposta satisfatória: que razão terá levado D.Luís e D.Maria Pia a baptizarem o seu filho primogénito e presumptivo herdeiro com nome de Carlos, nome jamais constante na longa lista de mais de seiscentos anos de monarquia que Portugal já levava? Curiosamente, ao contrário do irmão, a quem foi dado o nome de Afonso Henriques, D. Carlos não tinha na enorme lista de nomes que a sua real pessoa comportava, muitos dos quais - se não todos... - remetiam para significados e ligações familiares ou religiosas que decerto os estudiosos saberão explicar, nenhum dos nomes tradicionalmente usados em qualquer das dinastias!
Não se tratando de um herdeiro por acidente, como foi o caso de seu Pai, a escolha é algo intrigante. E ainda mais intrigante se torna quando procuramos este nome na história da Europa, ou seja, quando nos confrontamos com "a importância de se chamar Carlos" em qualquer dos idiomas em que quer o poder político e religioso, quer as desgraças da Europa, se registaram para a posteridade.
A Carlos Martel, o rei Merovíngeo que no século VIII salvou a civilização cristã e o Ocidente da conquista muçulmana, segue-se Carlos Magno, fundador do Sacro Império e da dinastia Carolíngea, imperador que se empenhou em libertar o papado do poder de Bizãncio e que, mesmo não sendo as suas relações com o papa Estevão II as melhores, o apoiou , em 756, na fundação do que viriam a ser os Estados Papais.
Depois de uma longa Idade Média a Europa cristã ressusge com o Carlos Borromeo , arcebispo de Milão, um homem da Renascença que põe especial empenho na educação do clero com a criação dos primeiros seminários e a promoção de sínodos diocesanos e de escritos catequéticos e de divulgação da doutrina católica.
Posto isto, CARLOS surge como o nome que mais se identifica com a determinada defesa da Igreja de Cristo mas que parece esgotar-se em si, transformada a acção dos seus detentores em insuportável e frragilizante fardo para os que lhes sucedem.
Curiosamente o nome, a que se associam tantas glórias da civilização ocidental, tem associadas, a partir de determinada altura, uma série de tragédias que vão desde os malfadados Stuarts aos banidos Carlistas nossos vizinhos, passando por várias figuras reais que se tornaram personagens romanescas.
No Vaticano, Karol Woijtyla preferiu adoptar para a posteridade o nome de João Paulo II a ficar como Carlos, o seu nome de baptismo.
E veja-se: o que a tudo isto me trouxe foi, afinal, o facto de o único rei Carlos que tivemos - sei lá eu porquê! - ter sido protagonista de tão injustificável tragédia que, na realidade, foi o epílogo da Monarquia em Portugal.