Apesar de haver muita gente doente ou à procura de doenças, o certo é que os médicos, especialmente os que apontavam para determinados alvos sociais, não estão em fase de muita procura. As pessoas estão a começar a ir ao médico quando estão de facto doentes - geralmente quando estamos doentes, por muito distraídos que sejamos, damos por isso...- ´porque a complexidade da vida pouco espaço lhes deixa para se entregarem a banais doenças e, ainda menos, para ver se descobrem alguma. Só os velhos, curiosamente, têm esse amor à vida. Os outros, os de meia-idade, já só se dispõem a fazer "check up" quando muito instados ou, também acontece, quando pensam residir no corpo o mal que lhes afecta a alma ou encontrar aí um desvio para as suas preocupações existenciais.
O facto tem levado a que certos médicos do tipo "faishonable" - os que procuram criteriosamente os seus nichos de mercado - se vejam por vezes obrigados a um oportuno "upgrade".
Vem isto a propósito de um médico convidado - não sabemos se a pedido do próprio se do apresentador...- para dar a conhecer as suas descobertas no campo do envelhecimento, em um daqueles programas populares com que as televisões preenchem o tempo dos que o têm. calhou-me te-lo e divertir-me a vê-lo.
O médico, sujeito bem apessoado, bem falante e portador de um nome reconhecível entre a "boa sociedade", trazia com ele um Zézé, já por demais conhecido nem sempre pelas melhores razões, que se dispôs, em prol do marketing, a exibir fotograficamente, em boxers, a sua triste figura antes de se ter deparado com a competência do miraculoso médico, e uma segunda na qual tinha, ao que deixou no ar, perdido, além do peso de massa corporal, o peso dos anos. E tudo graças ao doutor que, após ter explicado os motivos que o tinham levado a deixar a área das drogas por ter concluído, ao fim de vários anos de proveitosa clínica, aquilo que qualquer inspector da Polícia com esse sector a cargo já lhe teria dito há muito, ou seja, que o combate à droga passa pelo combate à rede de produtores, traficantes e consumidores. Desgraçadamente as próprias famílias também terão chegado há muito a essa conclusão e percebido que, por mais doloroso, é mais fácil aprender a conviver com o facto do que desgastar-se na cura de situações maioritariamente irreversíveis.
Inteligentemente, o doutor abraçou o mercado onde se situa a clientela mais numerosa, predisposta, e com mais meios financeiros para tentar o sucesso - o que não acontecia com os drogados que constituiam uma terrível sobrecarga familiar de despesas que se adicionavam aos expedientes das exigência do consumo - , ou seja: O ENVELHECIMENTO.
Um regalo ouvi-lo, porque o doutor não descurou nenhuma das vertentes afectadas nem o perfume da sedução no que propunha, com grande simplicidade, para as conter.
O retardar do envelhecimento vai, segundo ele, desde o controlo do peso - aqui nada de novo porque este parece ser hoje um dos flagelos sociais que afecta mais a sociedade que os próprios, alguns com experiência de antepassados obesos que terão "falecido" proximo dos cem anos - , controlo conseguido com espantosa rapidez, a avaliar pelo ZéZé junto, mas também por um desejável emagrecimento da consciência, "objecto" que, segundo um franciscano meu amigo, não deveria existir. O doutor também propunha isso: deitar o passado para trás das costas deixando lá ficar tudo o que pudesse perturbar a consciência - creio ser isso o que os políticos, auxiliados pelos juristas,já aprederam há muito a fazer sem precisarem de recorrer ao médico - , iniciar um presente limpo de post-ocupações, um presente feliz virado para um futuro cuja principal preocupação fosse concentrarmos- nos numa motivação que nos faça felizes. Enfim, ter a FELICIDADE como lema, caminho e meta.O hedonismo como modo de vida, numa época em que a felicidade se mostra tão exigente, e com receituário privado.
É óbvio que, num tempo em que a felicidade - a felicidade a sério e não alienações em compatibilidade com a bolsa ou com a amoralidade - se ausenta com bastante frequência da vida das pessoas e das comunidades, o apelo é extremamente atractivo! E o segredo, se tal se pode dizer, reside no ESQUECIMENTO!
"Varridela" para os que praticam o mal com o gozo que lhes dá poder praticá-lo, se possível mascarado de bem; "conselho" para que os que são dele vitimas esquecerem tudo o que lhes aturaram, a destruição das suas, horas, das suas vidas, dos seus países, dos seus valores, dos fundamentos da sua fé no mundo, etc..
EMAGRECER E ESQUECER! Eis um remédio simples e, tendo em vista o Zézé, de resultados garantidos.
Corremos o risco de voltar a engordar - Christina Onassis, com todos os seus milhões, foi um harmónio...- ou de à hora da morte, como parece ter acontecido com empedernidos ateus, termos um rebate de consciência, com a dúvida pendente entre o perdão e o castigo. Mas nessa altura quem se lembrará daquele médico?
Tudo aponta para que estejamos a assistir ao fim de uma Civilização que foi conformando o mundo à sua imagem e o foi liderando segundo os seus conceitos por mais de dois mil anos. Á requintada e socialmente organizada civilização do Mediterrâneo, seguiu-se a civilização atlântica, mais mercantilista e vocacionada para a supremacia do ter sobre o ser na consolidação do Poder.
A grande dispersão que se seguiu, ora atropelando, ora absorvendo a grande maioria das culturas por onde passou, teve também o reverso: vestiram-se povos autóctones enquanto que os colonizadores se iam despindo cada vez mais, artistas como Picasso encontraram inspiração estética em raízes africanos, e muitos outros factos será sempre possível mencionar, pese embora a relutância com que a actual "civilização ocidental" - ela também reduzida já a um mero conceito - aceite a origem desses fenómenos.
No campo da Estética a Civilização Ocidental foi grande devedora da harmónica e insuperável divina proporção da estética grega. A verdade é que os gregos tinham a seu favor, para além de uma organização social que favorecia o lazer e, consequentemente, o puro pensar - sem outro objectivo que não fosse o pensar-se e interrogar-se sobre o pensado -, beneficiava de condições geográficas em que a Natureza se apresentava no mais belo e requintado estado de pureza. A leveza do céu, de onde emerge uma luz branca que proporciona doces variações tonais, a transparência dos mares, a quietude das ilhas, a beleza consciente que inspirava a vida das suas gentes, tudo concorria para que fosse possível a invenção de um Olimpo povoado de deuses com características humanas , quer amistosas quer guerreantes, que a sua condição de divindades avolumava. Mas em tudo imperava o culto do Belo e a razão da sua origem e aceitação.
Foi essa a estética que orientou as nossas artes pláticas e, porque a visão é talvez o mais imediato dos sentidos, marcou as nossos gostos. Levámos séculos - por que não dizer: milénios - a "curtir" a beleza nos moldes em que tinha vindo a ser transmitida e usada , quer na concepção física do divino, quer na nobreza que aportava a descrições, estátuas e bustos dos heróis na diversidade dos seus campos.
O abandono do culto do Belo -tal como o reconhecemos e adoptámos, inclusivamente na Moral ,onde o Bom e o Belo se confundiam (não era concebível aceitar como belo um acto imoral ou amoral, associando-se desde logo o Mal à fealdade das bruxas e a beleza à serena bondade das fadas) - tem, dentro do abandono e rejeição do contexto civilizacional do Ocidente, tido conseguido um percurso rápido. De repente o Belo, que começara a identificar com o "luxo" devido a uma opção quase exclusiva das élites, ultrapassou a decadência que enfermou todas as outras áreas de culto da sociedade dita ocidental. E, o que até então tinha sido considerado feio, passou a ser visto como uma discutível opção, que tanto poderia ter como conteúdo esse como o seu contrário. E, assim, chegámos onde chegámos!
Hoje, vendo o anúncio de um livralheco de banda desenhada - que, ao que parece, ainda que em versões mais saudáveis, entrou tristemente em moda e há que não perder a "onda"...- concluí que o mau-gosto deixara de ser apenas uma fatalidade e se propunha começar a fazer escola. O "album" - anunciado! - irá reproduzir-se e tratar o tema que lhe serve de título: "Um casal vulgar". E, creiam, é de vulgaridade que se trata! A capa - da autoria de um "gólfista"desenhador- apresenta o casal. Uma mulher avarinada, sem idade, de cabelo no ar e seios pendendo sobre onde se supõe seria a cintura, fugindo de um homenzinho entradote, atarracado, com um olhar espantado por detrás de grossas lentes, calças em saca-rolhas e o ar de quem ia saltar para cima da mulher que o mirava em fuga e violá-la...caso ela quisesse.
Apresentar assim um casal, por mais vulgar - subentendendo que a intenção é falar de um casal tipo - inclina-nos mais para um "casal ordinário" (será que o título foi escolhido em francês?) do que para ideia que temos de um casal normal, por mais simples e provinciano que o pensemos. Tudo ali é feio! Pode ser que na página dez, Deus se tenha compadecido deles - e dos leitores - e lhes um bebé bonito como o são todos os bebés, que se fosse vida real, teria que arcar pela vida fora com aquelas inóspitas criaturas.
Isto, porém, é um fait divers. Ninguém é obrigado a comprar o album e poderá sempre deitá-lo fora ou usá-lo parcialmente para outros fins. O problema é que o "estilo" rompe barreiras onde a solidez do Bom/Belo se fragiliza. Temos hoje uma geração como talvez nunca tenhamos tido: jovens altos, escorreitos, conservando os traços de famílias bonitas de onde vieram, de uma agradável politesse, alinhando na vulgaridade apenas quando não desejam passar despercebidos. Distinguem-se mesmo em farrapos porque até os farrabos neles são bonitos. Mas temos também, num crescendo, um prazer da extravagância que choca mas que cabe na regra de ouro deles em que "o que importa é ser feliz". O desmazelo, que aliás sempre foi atributo das famílias feias, como que querendo acrescentar algo que mostrasse que eram assim por opção e não por fatalidade, tornou-se um complemento de vida que por vezes se confunde erradamente com a falta de asseio.
É certo que nem todos os homens podem ter metro e meio de pernas, mãos musculadas, narizes aquilinos, e uns belos olhos resplandecentes, tal como nem todas as mulheres podem ter figuras esguias, belas cabeleiras, ollhos bonitos, pele de pessego, e um andar flutuante. Cada um é como é em cada uma das fases da vida. Mas fazer o elogio do feio, celebrá-lo, como se uma mulher desaustinada e um homenzinho de perna curta, narizinho de boneco, mãos de donzela e olhos piscos fossem uma maioria de tal modo que nem se desse por que eram assim, será demais.
Num mundo em que tudo é feio, desde o modo de estar e se exibir, até ao baixo calão - a procolália invasora - passando pelo insuportável elogio em causa própria, como se cada um de nós fosse seguidor/praticante de Kant e desejasse que todos nos comportássemos como eles, vai uma cada vez menor distância. E isso, juntamente com a estranha lição de liberdade que pôs a "europa" em alvoroço e serviu de banquete a uma comunicação social que vai levar tempo a mastigá-la, a menos que outros actos libertadores se imponham, e que repete ad infinitum os acontecimentos, com a banalização do sagrado, com o desprezo pela privacidade, com um oportunismo sem pátria nem dono, com uma ânsia de poder que visa apenas o bem de alguns em "off" e lamentando em "on" a situação dos que não podem e não têm, não nos conduzirá - como às vezes possa parecer - a uma nova versão da Idade Média. Porque temos um tronco sólido a que falta uma cabeça.
A verdadeira beleza, inspirada como sempre na beleza da Criação, surge agora na retoma das culturas africanas, com as suas belas mulheres e homens atléticos, que se dispões a revitalizar as suas tradições. O interesse pelo que deixámos vai-se perdendo. Quanto às grandes civilizações orientais com quem traficamos, fazendo embora a cortesia demostrar um agrado, não descuram, bem o sabemos as suastradições e padões de beleza que pasam pelos jardins e por coisas aparentemente tão insignificantes como o momento do chá. São SIM!
Passados quarenta anos Alberto João Jardim sai por decisão própria do lugar que ocupou brilhantemente como Presidente do Governo Regional da Madeira!
E fê-lo com grandeza! Nem todos os governantes têm o dom de acertar com o timimng exacto em que devem dar lugar a outros, especialmente quando têm vitórias garantidas e não o fazem por cansaço, velhice ou doença, nem sequer porque pensem abandonar a vida política.
É certo que Alberto João tinha - e continuará decerto a ter - um jeito muito próprio, que desagradava aos continentais do "quadrado" , que, venham de onde vierem, se julgam ainda células do Império que já fomos. Alberto João soube sempre lidar com essa desajustada e ridícula sobranceria. O que lhe importava era dar à sua linda e tão carente Ilha o estatuto que a sua gente e a sua beleza mereciam. E fê-lo.
A Madeira que Alberto João transmite ao seu sucessor, aparte a beleza natural, nada tem que ver com a Ilha em que pegou, em que aparte meia duzia de famílias, os turistas eram reis e tudo se passava como se a Ilha inteira existisse para os servir. Alberto João, sem nunca afastar a noção de que o Turísmo era o cerne da economia da Ilha, soube usá-lo para dignificar os que por lá viviam, muitos deles em lugares praticamente inacessíveis, outros em alguns lugares onde a miséria se instalara em todas as suas versões e adquirira um conformismo que parecia não ter mais remédio. Alberto João preocupou-se essencialmente com essas pessoas. Criou uma rede de transportes que permitiu que todos tivessem acesso ao Ensino. Dito aqui e pensando nas "conquistas de Abril" pode parecer pouco. Mas não o é para quem conhece a Ilha e as suas povoações escavadas na rocha.
É certo que para o fazer, para abrir caminhos que não fossem apenas para os turistas desfrutarem as vistas mas vias para quem ia estudar ou trabalhar, abriu estradas que nos podem parecer um exagero, consentiu que se construísse em terrenos pouco seguros para que os aglomerados que se amontoavam em lugares como Câmara de Lobos passassem a ser famílias e a ter as suas casas. Não terá conseguido tudo porque quer a Natureza quer os homens criam obstáculos que o tempo não consegue ultrapassar.
Nunca ouvi Alberto João falar dos pobres ou queixar-se da pobreza. Não teorizava; fazia! E fez muito! Levou electricidade a lugares onde nem esperança havia de que ela lá chegasse e deu a mão a muita gente que considerou ter capacidade e fidelidade para o ajudar na tarefa que se tinha proposto realizar. Poderão dizer que era isso que o levava a ganhar eleições, mas a verdade é que com aqueles ou com outros ele ganharia sempre de tal modo se soube identificar com a Ilha e com as suas muitas idiossincrasias de toda a ordem, nem sempre fáceis de conciliar num meio pequeno e fechado. A verdade é que não foram apenas as belíssimas instalações hoteleiras que acrescentaram fama à fama que a permanência inglesa deixara. Tem optimos estabelecimentos de Ensino e espaços gimno-desportivos, culturais e de convívio que satisfazem todas as classes sociais.
Não creio que, para além de alguma "bilhardice", se a houver, haja alguma coisa a apontar a A.J.Jardim. Se houvesse, com as oposições que cá e lá, embora por razões diferentes, pretendiam derrubá-lo, isso já teria sido aproveitado e usado ao estilo actual de fazer política. Dizem que é um ditador, que abusa da autoridade. Talvez! Mas é um autoritário com cabeça e plenamente entregue ao compromisso que assumiu quando se propôs governar a Ilha. Foi, digamos, o que nos faltou por cá...
Vinculado ao PPD-PSD desde início, foi responsável por todas as vitórias do partido. E os difeentes "leaders" tiveram sempre a consciência disso e sabiam que ele sabia que eles sabiam e, como seria de esperar, tirava partido disso.
Alberto João Jardim está livre e, já o disse, quer continuar na vida política activa.Seria um desperdício se o não fizesse. Fá-lo-à decerto como membro do PSD - maior defeito dele porque este PSD está longíssimo do PPD que ele estreou - e irá maia uma vez ajudar o partido a conseguir um resultado mais satisfatório, malgrée todas as burrices que os seus governantes têm feito ao longo dos anos.
Tudo isto para dizer que entre os putativos candidatos- todos eles já mais do que testados pelas estradas da política comos resultados por nós conhecidos e sofridos-desde o incansável e hesitante perdedor que é Marcelo-comentador, até Santana Lopes - agora bem aconchegado na Santa Casa - passando pelos "nins" de Durão e Guterres, candidatos é o que não falta! Mas que provas temos das suas capacidades se uns nem lá chegaram e outros nos conduziram onde hoje jazemos?
Penso, e não tenho sobre isso dúvidas, que ALBERTO JOÃO JARDIM será, se se candidatar,o único candidato à PRESIDÊNCIA DA REPÙBLICA com provas dadas na área da governação e com objectivos plenamente claros e compreensíveis.
Claro que não será fácil romper na camarilha política que se entreteceu para lá de ideologias, procurando apenas os seus próprios interesses - sempre inconfessáveis, porque ou não os dizem ou mentem quando os dizem - e estando-se nas tintas para Portugal e para o seu Povo. Aparecerão grupos popularuchos reivindicando uma monarquia que, ainda que se seja monárquico, ninguém sabe ao que vem, aparecerão as aderências do soarismo e do cavaquismo e tudo isso se conciliará em quem prometer reformar uma lei, beneficiar um municipio, conceder um ministério à mana. Alberto João detesta os socialistas e não nutre maior apreço pelo CDS. Os pequenos partidos que se têm vindo a formar prestariam um enorme favor ao País ao País se apoiassem
ALBERTO JOÂO JARDIM À PRESIDÊNCIA DA REPÙBLICA!
dadas e com a genica de quem sabe determinar um rumo e fazê-lo Vingar.
Sábia nos seus objectivos a Natureza tratou de que fazer um filho fosse, em situações consentidas, um momento de prazer e que os intervenientes no processo não soubessem que estavam a fazer uma criança embora conscientes de que do acto tal poderia resultar.
Até há algumas décadas a esta parte - antes da descoberta das diversas pílulas, dos perservativos, dos laqueamentos de trompas, dos vários dispositivos que perservam a mulher em relação a uma gravidez indesejada e de muitas outras coisas que desconheço - as mulheres, embora fosse possível que uma virgem de trinta anos soubesse menos sobre o facto do que hoje uma garota de sete anos , sabiam que de uma ligação fisicamente intíma com um homem poderia resultar uma gravidez.
Com os homens a coisa era diferente. O assunto era delas. A Natureza se encarregara de lhes por no ventre por nove meses e vários incómodos um pequenino habitante que um dia, sabiam lá elas, tanto poderia vir a ser um triste como um grande homem. E, diga-se, o nascimento da criança estava longe, por melhor que corresse, do momento grandioso que lhe dera origem
Conheci, e conheço, várias mulheres que, umas de bom grado e sem o menor desejo ou necessidade de partilhar o filho, outras com muita revolta e sacrifício, se assumiram como mães solteiras e nem quiseram que eles perfilhassem as crianças. Dantes era um estigma, hoje, felizmente, já não é,
Com as criadas isso, em certas casas, era frequentíssimo. "Elas" eram um lugar limpo para os meninos iniciarem a sua actividade sexual e, se a coisa corresse mal e "ela" engravidasse de duas uma: ou lhe arranjavam um marido a quem arranjavam emprego para que casasse e perfilhasse a criança como sendo dele ou, muito simplesmente mandavam a rapariga embora acusando-a de estar a criar uma situação desagradável por puro oportunismo.
Claro que tudo isto se passava quando não havia televisão, e os bebés chegavam de Paris no bico de uma cegonha já de fralda posta e chucha na boca. Hoje todas as crianças sabem tudo desde a mais tenra infância e se os pais não as industriarem o Estado encarrega-se de o fazer. Não há hoje, creio, ninguém, homem ou mulher com mais de dez anos, que não conheça as potenciais consequências de um acto sexual. O que pode faltar, isso sim, é a educação deles ir no sentido de explicitar os sarilhos que podem resultar dessa displescência.
Vem isto a propósito de dois casos em que devido a impulsos momentaneos se desfizeram dois casamentos felizes. Um que já levava quase quarenta anos de matrimónio e vários filhos e netos, outro o de um jovem casal com poucos meses de casados e estando a esposa com oito meses de gravidez e todos, pais, avós, e irmãos, felicissimos naquela espera.
Eis senão quando, em ambos os casos - no primeiro uma secretária que há mais de dez anos, ao que consta, consolava o senhor ao sábado, dia em que a mulher ficava com os netos e ele ficava livre para ir "para a Versailles ler os jornais, encontrar-se com os amigos e almoçar por lá ou em sítio sugerido por algum dos comparsas de tertúlia", a outra que, também ao que consta, mal soube que ele ia casar nos próximos meses - rapaz muito respeitador da noiva que, por sua vez, jamais conhecera qualquer atrevimento da parte dele- começou a chegar-se muito a ele e, numa noite de vela na clínica em que trabalhavam, ZUCA!, apanhou-o decerto sem grande dificuldade (noite, homem apaixonado - mesmo não sendo por ela...- e o corpos ali, sem quem lhes acudisse, nem sequer uma urgência...). Em ambos os casos as "piquenas" ficaram grávidas e, em ambos os casos os homens ficaram aterrados sem saber como desfazer o que tinham feito e que elas, graças a Deus, se recusavam a desfazer. Depois de muitas discussões, no segundo caso envolvendo os pais da jovem profissional que terão visto no caso mais uma oportunidade do que um acidente previsivel, surgiu a ameaça do fatal teste de ADN. Ambos os homens recusaram mas a verdade é que o consentimento deles não era sequer necessário. Ambas estavam dispostas a ir em frente. E foram! E ambos os casamentos terminaram ali, um transformado em escandalo familiar, outro culminando numa tremenda desilusão e, com o apoio dos pais da jovem noiva e recente mãe, disposta a não querer por-lhe mais os olhos em cima e a criar sozinha a criança.
Justa sentença, diremos, para os homens aprenderem que não podem andar para aí, desleixados e precipitadamente, sem se informarem primeiro - caso elas queiram dizer a verdade... - se elas estão protegidas ou de se protegerem eles. Contudo...
...há que ver o outro lado da coisa. Na melhor das hipóteses nenhum deles entra no jogo com a preocupação de que pode ter um filho! Quanto aos homens é mesmo uma certeza! Ambas sabiam que eles eram comprometidos.Um já avô, o outro a dois passos do casamento no fim de uma namoro de dois anos. É dificil pensar aquilo que talvez - quem sabe...- elas tenham pensado. Para uma o filho é uma reforma melhorada e a companhia garantida, para a outra era uma maneira de caçar um jovem clínico especializado numa universidade dos Estados Unidos e filho de gente bem e com bens.
Foram dois natais estragados para várias pessoas e ambos. embora perfilhando as crianças e terem que ficar - legitimamente porque as crianças não tinham tido culpa de terem sido feitas assim "á vol d'oiseau" - a pagar pensão para o sustento e educação das crianças.
Tudo justíssimo! Mas ocorre-me perguntar: não terão os homens também razão para se queixarem de os terem feito pais sem primeiro se informarem se eles queriam correr esse risco? A solidariedade do acto só existe durante a execução do mesmo? Porque se podemos no mínimo dizer que, pelo menos no caso do jovem médico, eles foram imprudentes porque sabiam que tal podia acontecer, que dizer delas? Será que ainda acreditavam na cegonha? E, provavelmente, no Pai Natal...
Que estas coisas se passem com homens livres que apenas evitam responsabilidades pessoais admite-se. Mas que se estraguem famílias, sem dó nem piedade, porque as tais "mulheres libertas" se esqueceram de avisar que não tinham tomado a pilula naquele dia ou que nunca a tinham tomado, é pura maldade. Para o homem, que acaba sendo um "anjinho" vestido de diabo, para as famílias, e até para as crianças que já nascem com uma complicada história a precedê-las.
"Como podia eu tornar-me superior à força do dinheiro? O processo mais simples era afastar-me da esfera da sua influência, isto é, da civilização: ir para um campo comer raizes e beber água das nascentes, andar nu e viver como um animal. Mas isto, mesmo que não houvesse dificuldade em fazê-lo, não era combater uma ficção social; não era mesmo combater; era fugir. Realmente quem se esquiva a travar um combate não é derrotado nele. Mas moralmente é derrotado porque não se bateu. O processo tinha que ser outro - um processo de combate e não de fuga.
Como subjugar o dinheiro combatendo-o? Como furtar-me à sua influência e tirania não evitando o seu encontro? O processo era só um - adquiri-lo, adquiri-lo em quantidade bastante para não lhe sentir a influència: e em quanto mais quantidade o adquirisse, tanto mais livre estaria da sua influência, Foi quando vi isto claramente, com toda a força da minha convicção de anarquista, e toda a minha lógica de homem lúcido, que entrei na fase actual - a comercial e bancária, meu amigo - do meu anarquismo.
(...)
- Porque escolheu vocè esta fórmula extrema e não se decidiu por qualquer das outras... das intermédias?...
- Eu lhe digo. Eu meditei tudo isso. É claro que nos folhetos que eu lia havia todas essas teorias. Escolhi a teoria anarquista - a teoria extrema como você muito bem diz - pelas razões que lhe vou dizer em duas palavras.
Ficou um momento coisa nenhuma. Depois voltou-se para mim.
- O mal verdadeiro, o único mal, são as convenções e as ficções sociais, que se sobrepôem às realidades naturais - tudo, desde a família ao dinheiro, desde a religião ao estado. A gente nasce homem ou mulher - quero dizer nasce para ser, em adulto, homem ou mulher, não nasce , em boa justiça natural, nem para ser marido, nem para ser rico ou pobre, como também não nasce para ser católico ou protestante, ou português ou inglês. É todas estas coisas em virtude das ficções sociais. Ora essas ficções sociais são más porquê? Porque são ficções, porque não são naturais! Se houvesse outras, que não fossem estas, seriam igualmente más, porque também seriam ficções, porque também se sobreporiam e estorvariam as realidades naturais.
(...)
-Qual é a ficção mais natural? Nenhuma é natural em si, porque é ficção. A mais natural, neste nosso caso, erá aquela que pareça mais natural, aquela que estamos habituados. (Você compreende: o que é natural é o que é do instinto: e o que, não sendo instinto, se parece em tudo com o instinto é o hábito, Ora qual é a ficção social que constiui um hábito nosso? É o actual sistema, o sistema burguês!"
Tentei hoje pela última vez entrar no facebook. Um disparate! Aquilo nunca me interessei nada por entrar lá e apenas o fiz porque, no negócio dos livros, alguém me sugeriu que fosse lá lê-lo. O "livro" era como tudo o que por lá se piblica mas eu viciei-me naqueles dálogos...que o não são. Com duas amigas ao lado, na Gulbenkian, depressa concluí que aquilo servia interesses que não eram os meus e que a maioria daquela gente não era a que eu respeitava. Tive inúmeras maçadas porque não sou do género de desistir e, mesmo por coisas que não valem nada - é bem mais interessante mandar um artigo bem fundamentado para um jornal onde tenhamos amigos ou enviar mensagens através deles do que perder um tempão ali quando há tanta coisa, bem mais criativa que negócios e voo de pássaros a fazer...- empenho-me sempre em ir até às últimas consequências. Só que, mesmo quando não respeito as pessoas tenho o maior respeito pelas instituições e pelas pessoas - não "gente" - que as servem ou representam. Agora desisto mesmo, embora, até ver, ande por aqui.
A verdade é que as pessoas quando começam a descida moral, especialmente quando a caminho dos setenta, degradam-se. Nada mais ridiculo que um velho armado em Pigmaleão - que era um gentleman rico e elegante - a dar-se de jovem empreendedor! Até porque os pássaros têm tendência a poisar nas armações, mesmo nas dos veados. Acontece às vezes que quando acabam o trabalho cívico o aluno/a já está mais do que farto e eles mais do que velhos. O tempo passa depressa e se não procuramos perservar a imagem digna que um dia tivemos, ainda que tenhamos casado e baptizado todos os pretendentes a todas as coisas- bem aflitos que devem estar com a "honra"...- a nova sociedade onde vamos pedir a esmola de respeito nunca nos trará de volta o que perdemos e, mais depressa do que os outros nos esquecem, cansar-seá de nós. Vale a pena pensar nisto...
"O quarto estava brilhantemente iluminado. Lembrou-se de que o deixara assim. O leito cintilava como se tivesse nevado sobre ele, inesperadamente. Ravic apanhou a folha de papel que colocara na mesa antes de sair e na qual avisava que estaria de volta dentro de meia hora e rasgou-a em pedacinhos. Procurou alguma coisa para beber. Nada encontrou. Desceu novamente as escadas. O porteiro não tinha calvados. Sómente conhaque. Ravic levou consigo a garrafa de Hennessy e outra de Vouvray. Conversou uns instantes com o porteiro, provando-lhe que Lulu II teria melhores probabilidades na próxima corrida para cavalos de dois anos, em Saint-Cloud. O espanhol Alvarez passou junto deles. Ravic notou que ainda coxeava ligeiramente. Comprou então um jornal e voltou para o quarto. Como custava passar uma noite daquelas! Quem não acredita em milagres no que diz respeito ao amor está perdido, dissera o advogado Arensen, em Berlim, em 1938. duas semanas depois foi mandado para um campo de concentração porque a sua bem-amada o denunciara. Ravic abriu a garrafa de Vouvray e pegou num volume de Platão que estava sobre a mesa. Momentos depois largou o livro e sentou-se junto da janela.
Lançou um olhar ao telefone. Aquele maldito aparelho negro! Não podia telefonar a Joan. Não sabia o número. Nem sequer onde morava. Não lhe perguntara e Joan nada lhe dissera. Provavelmente calara-se de propósito. Assim restar-lhe-ia sempre uma desculpa.
Bebeu um copo de vinho leve. Que idiotice !- pensou. Aguardo uma mulher que esteve aqui ainda hoje, pela mahã. Durante três meses e meio não a vi e não senti tanto a falta dela como agora, quando passou longe de mim apenas um dia. Teria sido mais simples se nunca a tivesse visto. Já estava habituado à situação. Agora...
Levantou-se. Não era isto também. Era a incerteza que o corroía. Era a desconfiança que nele se insinuara e que aumentava de hora para hora.
Ravic foi até à porta. Sabia que não estava fechada, porém quis certificar-se mais uma vez. Começou a ler o jornal; leu-o como através de um véu. Disturbios na Polónia. O choque inevitável. A reivindicação do Corredor, o tratado da Inglaterra e da França com a Polónia. A guerra que se aproximava. Deixou cair o jornal e apagou a luz. Deitado na escuridão esperou. não podia dormir. Voltou a acender a luz. A garrafa de Hennessy achava-se sobre a mesa. Não a abriu. Levantou-se e foi sentar-se de novo perto da janela. A noite estava fresca, o céu alto carregado de estrelas. Alguns gatos miavam nos pátios. Olhou para o leito. Sabia que não poderia conciliar o sono. Inútil tentar ler. Mal se recordava do que lera antes. Sair - eis a melhor solução. Mas onde iria? Isso pouco importava. A verdade porém é que não desejava sair. Queria saber alguma coisa. Com os diabos! Procurou então os comprimidos de soporífero no bolso. Iguais aos que fornecera ao ruivo Finkenstein. Engoliu os comprimidos. Mesmo assim duvidava que conseguisse dormir. Engoliu mais um. Se Joan viesse despertaria.
Ela não veio. Como também não veio na noite seguinte."
Erich Maria Remarque, "Arco do Triunfo", ed. Livros do Brasil
Escrito no que foi o prelúdio da segunda guerra mundial por um médico alemão exilado em Paris, onde exerce medicina cirúrgica clandestinamente, é o relato intímo e vivido numa cidade onde convivem todas as convicções políticas da Europa e todas as consequentes solidões e humanas inquietações. Pelo meio uma história de amor sem lugar, magistralmente interpretada por Ingrid Bergman e (creio...) Curd Jurgens. Um livro que vale a pena ler, ou reler. Da minha geração, quem não se lembrará deste filme!
Maneira triste de começar uma nova série de blogs em começo de ano! A verdade porém é que não podia deixar passar em brancas núvens o fim do que foi durante mais de sete anos o meu blog no SAPO.
Obviamente que o "petitprince" não morreu! Aconteceu ter sido engolido por um qualquer homúnculo desprezivel que o vomita a toda a hora. Só hoje, dia 2 de Janeiro, já lá botou quase uma dúzia de textos - encimado um deles por uma belíssima fotografia de D. Manuel Clemente com o seu riso são e aberto - de onde se depreende que seja alguém que, para além de louco não identificado pelos serviços, não tenha nada com que se entreter para além de por o passarinho a voar... caso ele voe! E tem sido assim diariamente, usando a minha chave de ingresso e, consquentemente, impedindo-me de entrar no espaço que me roubou. Meu pobre e querido Principezinho!
Porém, não sei porque motivo, sou "compensada" com dois corações quer na entrada dos Blogs quer na entrada do meu post. Saloices! E sobre este enxovalhado assunto nada mais direi, mais que não seja para não prejudicar o ganha-pão do infeliz hacker.
Este meu novo blog destina-se especialmente à divulgação de textos que, sendo de tempos passados, alguns bem remotos, são de uma tal actualidade que nos levam a concluir que os homens são, na sua diversidade sempre os mesmos e que reagem socialmente de modos idênticos, embora interiorizando o "clima" social da época.
Como o adorável Petit Prince não encontraremos outro. Partiu para o seu planeta com a sabedoria que só nos é proporcionada quando sem sobressaltos olhamos com amor a Natureza e o que de mais simples ela tem.
FELIZ ANO, com a energia da acção e a inteligência da escolha!