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Petite Fleur

Petite Fleur

THE TALK OF THE TOWN

Mais que não seja pelo facto de não sermos eternos, é irracional eternizar conflitos. Podemos não compreender, não esquecer o desperdício the tempo que significaram nas nossas vidas que, mesmo não sendo nós hedonistas e tendo, pelo simples facto de vivermos, o nosso quinhão de contrariedades, podemos considerar invulgarmente felizes...pelo menos até à data.

Olhamos para trás e vemos lá no início das nossas vidas - quando várias circunstâncias podiam fazer prever o contrário - uma infância extremamente alegre e feliz, a que se seguiram décadas de um amor/amizade doce e aconchegado, sem frustrações ou perversidades que afectassem a alegria da  nossa casa, um tempo de realização pessoal inesperadamente bem sucedido, amizades que haveriam de nos acompanhar, amores de gente a sèrio que "sabiam bem" mas que se passavam com pessoas como nós, que não atropelavam nada para chegar aos "finalmente" que sabiamos morarem em outros lugares., a alegria de termos conseguido educar os filhos para o mundo onde iriam viver - e não para um lugar imaginario onde se mascarariam de algo que nos satisfizesse a ambição social - e onde constituiriam as suas própriias famílias com gente decente, cujos nomes não andassem nas paragonas dos jornais pelas piores razões, gente nossa que, por mais que nos distanciem questões de critérios, vemos florescer discretamente nas vidas de outras gerações que para sempre serão nossos descendentes. 

Livremente, fizemos sempre as opções que racional ou intuitivamente, foram o agir da nossa liberdade sem que nisso interferissem outros critérios que não aqueles que conscientemente receberamos, questionaramos e adoptaramos. Depois disso, obviamente, não iriamos, já velhos, negá-los ao sabor das circunstâncias, apenas porque não reconheceram em nós aquilo para que em casa nos fadaram e que nos roubou o precioso tempo para cultivarmos os dons com que Deus - proscrito ou não da nossa vida - nos dotou.

As nossas vidas, por mais banais ou condicionadas que possam parecer, estão quase sempre recheadas de acontecimentos inesperados, tanto no tempo como no espaço. Mas acontecem, e não vale a pena chorar sobre os cenários "cor de rosa" - como os horrosos lençóis às florinhas  dos supermercados que, penso, com um bocado de sorte acabarão por ficar brancos depois de umas passagens pela máquina...- porque a vida é como é, uma paleta colorida inspirada no arco-íris, e pode sempre acontecer que alguém abra a paleta fora do "cor-de-rosa" (côr que não existe porque as rosas, até elas, são de cores várias) e, despidos dos óculos  tingidos de rosa não consigamos fitar a Luz clara da Verdade. Pecado de quem limpou as lentes? Talvez! Pecado de quem no-las ofereceu? Não interessa!

O essencial é que todas as histórias têm uma conclusão, tanto em fitas coloridas como a preto e branco. E há que ter a coragem - palavra que ouvi gritada hoje numa despedida - de colocar o ponto final. Os episódios, interessantes que possam ser de seguir, como muitos outros, passam-se num país que não é o nosso, para onde o personagem central emigrou, lugar que desconhecemos e onde reiniciará, embora tarde, uma nova vida - será nova??? - com outra linguagem, outros interesses, outras crenças, outra ética, outra estética. Um lugar lá longe que não poderiamos, ainda que quisessemos, alcançar e que não desejamos conhecer.

O outro, o que morreu quando partiu os óculos cor-de-rosa, ficará para sempre no nosso coração. Saberá sempre onde nos encontrar "se" ou "quando" a única pessoa, ou coisa que ainda o ligue ao tempo perdido - a Fé, a admiração por um homem que deixou dela em texto uma visão  notável - desaparecerem ou falharem no meio desse mundo circense onde se acotovelam gerações, velhos pecadilhos, estratégias, projectos, vinganças, ambições e, talvez, esperanças e realizações. Contudo, nada disso jamais valerá o que  de grandeza poderia ter sido!

 

ESTRANHOS CASOS

Devo confessar que o facto de os supermercados passarem a cobrar os sacos de plástico foi algo que me deixou confusa! Custa perceber como só causam dano ao ambiente - visto que tudo o que embalamos  nos super, das frutas aos legumes passando pela carne e o peixe, vem em sacos de plástico os sacos de plástico fino com asas!

Ontem, num café de referência do meu bairro, ouvi contar uma história por um grupo de jovens, entre gargalhadas.

Segundo eles, um relações públicas de uma multinacional de sucesso, sentindo instável a sua posição e baseando-se em informações recolhidas numa operadora de caixa, resolveu levar a peito o assunto. Com isso, e usando das múltiplas relações adquiridas no lugar que ocupava, teria adiantado uma sugestão que agradou simultaneamente aos donos dos estabelecimentos - passaram a vender o que ofereciam... - , ao Governo - que cobra mais um imposto sem meter as mãos na massa - , ao PSD - partido da sua esperança e aos inocentes  Ecologistas.

Grato à operadora de caixa, tê-la-ia, segundo eles, nomeado sua contabilista, sua empregada doméstica, sua motorista , sua namorada - não foi bem este o termo por eles utilizado... - e o que mais revelassem os seus dotes. Em troca, além da promoção social, pagava-lhe com umas habilidades que aprendera nos lugares próprios e a promoção social possível, dadas as circunstâncias. Tudo gratuito!

A ser verdade, que Deus ajude a pequena! É muita função por tão exigua paga!

NÓS, OS CATÓLICOS

Temos um novo e simpático Cardeal a quem, por ele e por nós católicos, desejamos as maiores felicidades!

Na oportunidade, atrevo-me a deambular um pouco pela condição que é a de muitos de nós.

Dizia Ghandi que tudo o identificava com a doutrina de Cristo e que só não era cristão devido ao que conhecia dos cristãos. Creio que muitos cristãos, sem deixarem de o ser, partilham da convicção de que, através dos séculos, o comportamento dos cristãos  não foi, mais vezes do que o desejável, algo que os distinguissde de forma positiva de outras convicções religiosas.

Apoiado num moralismo herdado da tradição hebraica - no seio da qual Jesus tinha nascido mas contra a qual se rebelara -  o seguir Cristo transformou-se numa doutrina com tanto de rigidez nos princípios como de ilimitada tolerância  nos fins e nas práticas que a eles conduzem.

Quer a revolução francesa, quer a revolução industrial tal como a implementou a sociedade inglesa  - ambas emergentes de sociedades cristãs de enorme relevância na Civilização Ocidental que, quer se goste ou não, é de matriz cristã - denotam, já em épocas de avançado conhecimento social e científico, uma extrema falta de sensibilidade que não bebia do tão propalado moralismo mas dele se servia para a encobrir.

Os valores de Liberdade, Igualdade e Fraternidade -  proclamados tardiamente pela revolução francesa, visto terem sido defendidos havia mais de mil e setecentos anos por Jesus Cristo, que em si concentrou todo o custo dessa pretensão  -  fizeram vir ao de cima, sob o ténue véu de uma justiça social que até hoje, independentemente dos regimes, não temos visto ser possível implementar, os mais negativos sentimentos que ferem a nossa humanidade.

A resplandecente época vitoriana, que partindo de uma invenção que, ao que parece, os chineses já conheciam havia três mil anos sem que lhe dessem aplicação para não menosprezar o valor do operar humano em favor da operacionalidade da técnica, travestiu de públicas virtudes os vicios privados que permitiram a criação de um império sobre o qual o Sol nunca se punha, e deu asas a uma economia desumana que, com o tempo, viria a alienar-se do mundo e a perder-se na sua própria grandeza.

Lembro-me de um francês, que tive como professor na faculdade, dizer que os dois momentos cruciais da história da Civilização Ocidental teriam sido a queda de Constantinopla e a revolução Russa. Não tenho condições,  por falta de conhecimentos de suporte, para confirmar ou contestar essa afirmação. Contudo, toda a minha intuição vai no sentido de a aceitar como verdadeira. Terão sido, penso, duas graves mutilações no seio de uma civilização construida numa solidez de princípios que se confrontaram e que, curiosamente, o fizeram na convicção da defesa intransigente desses mesmos princípios.

Qualquer destes momentos históricos deu lugar a especulações - e digo-o no bom sentido...- que acabariam por confundir, numa versão empobrecida pelas realidades que geraram, o poder dos homens com omnipotência de Deus, atribuamos-lhe nós o nome que quisermos,  já que Deus "É o que É" e, religiosos ou laicos, acreditando nos astros ou nos karmas, chamando-lhe destino ou fado, a verdade é que haverá algo de materialmente inatingivel que nos faz nascer "assim", viver "assim", morrer "assim", ainda quando consideremos que tudo termine quando o nosso pó alimentar a terra e um espírito hegeliano algo recolha da nossa duração.

A Igreja Católica - dois mil anos de história plena de cambiantes sobre os quais só inconscientemente nos atrevemos opinar - vive um momento complicado, que se compagina com o tempo complicado que é o do mundo em que se insere e em que nada é fácil porque a Razão se desdobra em razões que tornam argumentativamente contestável em nome de um volátil presente  tudo o que é passado, e têm como rumo para um futuro desejado bases meramente experimentais que dificilmente alguma geração irá ver concretizadas e, consequentemente, elaborar uma opinião sobre este "fazer de vida".

O Vaticano conheceu nas últimas sete décadas - apesar do longo pontificado de João Paulo II - uma notável variedade de tendências, reflexo talvez das diferentes "escolas monásticas" que maior influência tiveram nas suas ascenções à cátedra de S. Pedro. Os mais conservadores - nos quais me incluo... -, convictos de que tudo deveria ser feito em prol da glória de Deus, incluindo a grandiosidade litúrgica que nada roubando aos homens antes os engloba nessa grandiosidade, têm como referência papas que procuraram conciliar as exigências de uma vivência cristã, em que é pedido que se ame o proximo como a nós mesmos (partindo do princípio de que, agraciados com o dom da vida, amamos o nosse eu e investimos no seu aperfeiçoamento), com a infinita grandiosidade da transcendência para onde dirigimos o nosso olhar. 

O Concílio Vaticano II - numa leitura intencional que Ratzinger terá considerado algo livre e por demais terrena - vem procurando, na melhor das intenções, alterar a direcção do olhar da Igreja: num mundo que -  vá-se lá saber porquê! - se ambiciona "laico" , ou deus anda pelo meio dos homens na terra onde eles começam e acabam - não como o fez Jesus no iluminado e limitado espaço mediterrânico, mas na confusa mélange social do "mundo global"(?) em que a grande ambição parece ser a conquista das "vitórias" que censuramos nos outros - , ou é apenas um acessório cultural, com um compêndio moral ad hoc e respectivas normas jurídicas, que, tristemente, uma considerável parte usa em prejuizo de uma ainda mais considerável percentagem.

Creio que, mesmo repudiando "Charlie", qualquer das perspectivas deva ser livremente assumida e defendida mas jamais agredida!

Porque se é certo que os mais frágeis e desprotegidos precisam de uma Igreja com força suficiente para os defender, também necessário se torna que entre os que, honesta ou subrepticiamente, se servem da Igreja em benefício próprio, retirando proventos ou obstaculizando acessos aos que não sabem ou não conseguem movimentar-se nesses meios, estejam sacerdotes que os encaminhem a eles e aos bens de que usufruem no sentido da partlha de que eles, sendo quem são, com as suas idiossincrasias, serão capazes. Não podendo, ou nem sequer desejando vencê-los, que haja quem se junte a eles e, conhecendo-os e às suas fragilidades, seja capaz de os respeitar e ajudar.

Que o  nosso Cardeal Patriarca, Senhor Don Manuel, cuja ascenção ao lugar que ocupa foi para mim uma enorme alegria -  tal como o terá sido para todos aqueles que acreditam que ser cristão é ser homem entre os homens tendo Cristo como referência e exemplo e procurando a nossa perfeição no mistério da sua divindade - nunca esqueça, nem por um momento, que a miséria não está só onde habita a pobreza, e que a necessária transfiguração não residirá talvez numa certa indigência do aparato litúrgico, como o papa Francisco parece defender, mas no evidenciar da limpeza de, como poeticamente disse Sophia Melo Breyner, os "túmulos caiados onde repousa por baixo a podridão". E hoje, perante uma imparável insatisfação no que à amoralidade diz respeito, há que abrir caminhos de verdade em que as intenções se revelem na pureza que lhes atribuimos. Creio que a Igreja só beneficiará se se envolver criteriosamente, e o menos possível, com os meios de comunicação social, onde o dinheiro e as audiências que o alimentam deixam cair nódoas ou perfumes sobre  pessoas e instituições consoante as suas conveniências.

Que o Espirito Santo o ilumine, e acompanhe todos os que consigo decerto, implicita ou explicitamente, trabalharão em prol de uma comunidade católica que se quer ver singrar não apenas em quantidade mas na qualidade , e em que uma juventude emergente nos enche de esperança, apesar dos enormes desafios e solicitações, por vezes tão negativas, que uma implosão desenfreada dos "mídia" lhes faz chegar e que as circunstâncias sociais favorecem negativamente.

Hoje estamos todos de parabéns. Não só em Portugal como na comunidade lusofona e nos remotos lugares que o papa achou por bem distinguir. Que Deus ajude e o espírito cristão acompanhe este nosso mundo que finge ser laico... ao serviço de outras religiões!

A REDE

Vivemos numa espécia de sono em que o sonho alterna com o pesadelo e em que corremos o risco de não distinguir entre ambos, tal a confusão gerada pelas ilusões com que os envolvem e que inviabilizam qualquer esperança de conhecero grau de identidade - se algum... que poderão ter com a verdade.

Aquilo a que chamamos "mundo" mudou muito, há já bastante tempo e de forma subreptícia e acelerada.

A "realidade", tal como a aprendemos e na qual decorriam as nossas vidas é hoje uma virtualidade. Nada, ou muito pouco, daquilo em que nos fazem crer, é real no sentido em que nos habituámos a identificar a realidade com a verdade dos factos.

E isto não decorre apenas da perversidade dos actuais ou potenciais detentores dos vários poderes, mas mas do modo como eles se relacionam entre si, numa vastíssima sociedade secreta que abarca no seu mutante secretismo todas as até há pouco consideradas "sociedades secretas". De vez em quando atiram-nos com uma nova "sociedade secreta" - caso de Bilderbeg - divulgada pelos próprios para que haja  um osso democrático com que se entretenham os povos enquanto a Grande Sociedade Secreta Mundial trata de coisas sérias, das que nem os seus membros ainda têm perfeito conhecimento mas segundo as quais visam, com a multiplicação dos meios de que dispõem - e que, curiosamente, são os mesmos de que dispomos mas acérrimamente vigiados e controlados pelas mais diversas instâncias desse obscuro Poder - criar um mundo que os satisfaça a todos. Pretensão grandiosa e impossível que, muito provavelmente, terminará numa guerra em que se degladiem o real humano e as virtualidades da técnica.

É frequente quando alguém menciona um facto socialmente mais transcendente alguém dizer: "Este anda a ver muita televisão... E, contudo, muito do que nos chega nas séries da Fox e em vários documentários que, "et pour cause", só passam quando quem trabalha já se recolheu, descodificam muito dos processos que conduzem a factos "inexplicáveis" com que a comunicação social nos confronta diariamente e para os quais, segundo os nossos valores e imagem que guardamos de uma realidadee que já não o é, não encontramos explicação. Impotentes, lamentamos a proliferação desses factos e seguimos em frente sem nos apercebermos dessa nova realidade e da virtualidade que é viver numa sociedade há muito extinta.

A verdade é que a WEB não é apenas uma rede de pescar que alimenta a publicidade, mas uma rede de prender,de malhas cada vez mais fechadas, onde cada um de nós é, sem que disso se aperceba, um nó em linha com uma infinita e incontrolável infidade de ligações. Somos, sem nos darmos conta, os mensageiros de tudo o que, de melhor ou pior, os que tecem a rede nos deixam capturar. E fazêmo-lo sem certezas, Apenas com suspeitas, porque o mundo deixou de nos merecer confiança e já nos habituámos a viver com isso.

Sabemos que enquanto escrevemos alguém nos vai lendo, que as comunicações de voz são quase públicas e mesmo gravadas, sabemos, porque a verdadeira realidade assim o exige, que, para nossa segurança, vivemos sob aturada vigilância. A liberdade, tão valorizada e proclamada como valor primordial, reduz-se à liberdade de um Charlie.

Daí a saudável necessidade de, por  uma questão de consciência, nos alhearmos do que apenas existe porque nos dizem, dos que  afirmam fazer opinião, dos que, manhosamente,afirmam ser seu desejo dar-nos espaço para pensar (como eles, claro!), dos que se pavoneiam de gravata roxa ou de qualquer outra cor no intuito de irem criando a sua própria rede, rede que, ignoram eles, será apertada pelas fortes malhas das circunstâncias.

O que se passou agora na Grécia, seja qual for o desfecho, foi a tentativa de um Povo que descobriu as virtualidades da inteligência de provar que há quem creia que a realidade, por pior que seja, ainda é possível. Aquilo é verdade!

 Por cá congregar-se-ão linhas partidárias, ideais, movimentos, circulos, e os habituais topa-tudo que nunca desperdiçaram um contacto e que, subservientemente, se disporão a po-los ao serviço de todas as causas. Porque já não é de ideiologias que se trata, nem sequer de ideais. É de Poder que se trata e daquilo que o alimenta. É essa a motivação que faz emergir insuspeitas colónias de prestáveis servidores.

Não é de espantar que a Religião regresse ao papel que sempre teve na vida das comunidades humanas. A Religião é, em si, a essência do transcendente, do que não precisa ser explicado nem útil porque é inerente ao Homem, iniciático e alheio a todas as entropias que os séculos e o conhecimento acumulem.

Magoa ver atacar qualquer religião ainda que não seja a nossa. Mais magoa assistir à falta de empenho com que defendemos a nossa! Como se tudo se reduzisse à tolerância, ao acolhimento do inimigo, à prática programática - e tantas vezes duvidosa - do bem, a duas ou três das vinte e quatro horas  do dia a pedir ou a agradecer a Deus. Que se passa nas outras???  

LE MONDE EST EN TRAIN DE DEVENIR UNE MERDE!

O título vai em francês, a lingua de "Charlie", para dar um ar mais culto ao tema e, para cheirar menos mal, acrescente-se-lhe um perfume YSL. Infelizmente, nada disso poderá alterar a repelência contida nesta triste realidade!

Pus-me a pensar - penso muito (é de graça..), vejo notíciários e leio jornais e revistas de todos os países cuja Língua conheço - e, depois de muito meditar cheguei à conclusão que já não vale de todo a pena pensar em termos de "Mundo", "Humanidade", "Universo"e outros conceitos que na sua vastidão envolvem uma imensidão de subsistemas através dos quais chegam às nossas vidas e nos dão cabo do sistema nervoso. 

A verdade é que já não vale, de todo em todo, a pena termos a pretensão de mudar o mundo e nem sequer a de alterar o que  nos vêm querendo fazer crer - os que julgam que mandam,  apesar de também eles estarem enganados...- que depende de nós. Já nada  depende de nós, seja qual for o "nós", há que tempos| A única coisa que podemos e devemos fazer é abstermos-nos de tudo aquilo que, em termos de justicações estatísticas, sirva para apoiar as breves e arriscadas ilusões de poder com que brincam alguns indivíduos e as cadeias de subserviência e ausência de escrupúlos que os apoiam.

Aquilo em que pensamos quando falamos de "mundo" está fora de todo e qualquer controlo, e aquilo a que assistimos é à busca feroz e incessante em que povos, raças, tribos, classes e instituições se empenham para encontrarem os seus caminhos e demarcarem as suas áreas.

Daí que a tão amada palavra "democracia" - um conceito que inocentemente os gregos inventaram e onde tem cabido tudo o que a contemporaneidade lhe tem querido meter dentro - comece a perder terreno em favor do "delivering", conceito mais inclusivo mas incomparavelmente mais difícil de promover em qualquer das suas várias vertentes. Resumindo: a globalização no seu melhor,  propondo-se como solução a um mundo onde tudo caminha em sentido contrário, em que as convicções de pertença estão cada vez mais presentes e arreigadas. Não vai dar! Ainda que seja a ONU a vendê-lo! Não vale minimamente a pena levar isto mais a sério do que às comissões de inquérito com que por cá a oposição entretem o tempo.

Outra coisa de que é urgente abstermo-nos é de tudo o que for feito para "as massas": programas de Tv, festivais, concursos, "futebóis", telenovelas, etc.. Tudo isso visa criar-nos preocupações fictícias que nos impeçam de pensar em temas que, se pensados, tornariam turbulentas "as massas" - reacção altamente improvável em povos de brandos costumes - e nos mantêm entretidos enquanto "eles" (sejam quem forem "eles"e pelo tempo que forem) se entretêm com o exaustivo jogo de nos enganarem a nós, se enganarem uns aos outros, enganarem-se a eles próprios.

No meio de tudo isto começa a ser importante ter em conta a "inteligência artificial" que, não sendo propriamente uma novidade - já se trabalhava nisso na Alemanha dos anos trinta e já está presente há muito em diversos utensílios mais ou menos sofisticados do nosso quotidiano, embora sem tão científico título - começa a assumir tarefas bastante mais "invasivas" nas nossas vidas, na medida em que pode ser utilizada por qualquer estúpido a quem sejam fornecidas instruções comportamentais que ponham a máquina a agir como gente.

O tema, que tem vindo a ser tratado com alguma preocupação em vários media, comporta riscos vários para populações indefesas e desconhecedoras dessa possibilidade. É o caso do acompanhamento de pessoas sós, doentes, idosos, pessoas de todas as idades com grande necessidade de interrelação, como os quase obsessívos frequentadores da web. Respostas psicologicamente estudadas para os diversos perfis e necessidades poderão ser automatisadas e, para o bem ou para o mal, viajarem pelo espaço sem que seja possível atribui-lhes uma responsabilidade pessoal. Estudado, ou escolhido, um determinado perfil é possível ganhar a confiança dessas pessoas através das respostas adequadas aos seus desejos ou preferências. Isto, parecendo não ter grande importância, pode ser altamente nocivo, inclusivamente no que respeita comportamentos sexuais com menores - é tão possível ser pedófilo através da net como em contactos físicos... - já que do discurso erótico ao discurso sexual vai uma ténue distância que as pulsões se encarregam de eliminar. Acresce que a coisa funciona, ainda que independentemente da imagem real, que ganha contornos ideais na imaginação do outro. Um moço atarracado, com o estomago a cair-lhe por cima do cinto ou uma rapariga despida do comum dos atractivos, podem ser jovens esbeltos e dotados de toda a espécie de atractivos para quem com eles se envolve numa relação que só é virtual devido à ausência sensorial, mas com uma intimidade que se solidifica e aprofunda, com todos os riscos que a habituação comporta. Abstenhamos-nos de amizades e "likes" com desconhecidos nas redes sociais.

Mais complicado, ou não menos perigoso, é o desenvolvimento celular da robótica que, teme-se, poderá acabar trabalhando contra os homens...como, aliás, tantas outras invenções subsidiadas pelos que têm capacidade financeira para o fazer e esperam por essa via dominar o mundo.

Aos drones, e às balas inteligentes que matam os homens mas poupam os edifícios, seguir-se-ão soldados/robot e outros do género que um dia darão aso a que se possa ser assassinado por um robot não identificado que não deixa impressões digitais nem sinais da íris, nem qualquer humano vestígio.

Posto isto creio que o que devemos fazer é vivermos como nos acostumámos a viver quando as nossas únicas ocupações eram a nossa vida e a dos nossos, quando a solidariedade se chamava caridade e ninguém fazia dela modo de vida, orientados pelas regras do Direito Consuetodinário, ouvindo as "nossas" músicas, sejam elas quais forem, mantendo os nossos hábitos de vida, especialmente os que não custam dinheiro, selecionando relações antigas, evitando confundir conhecimentos com amizades, e evitando até ao limite do possível a dependência das instituições, fontes de desorientação e descrença.

A privacidade - ao contrário do que se apregoa por razões de marketing comercial - é hoje o maior dos luxos! 

Não alimentemos mais ilusões sobre o mundo apregoado nos desejos, intenções e conselhos dos internautas! Nada daquilo existe, ou existe apenas como raridade. As pessoas que os enviam podem até acreditar neles mas está à vista que apenas uma infíma minoria os praticará.

A verdade é que os mais velhos não aprenderam nada com a História e os mais jovens podem até saber muito de informática e serem experts nas suas profissões mas desconhecem-na, porque a História vende mal e não gera lucros.

Num mundo assim só nos resta retirarmo-nos! E fazê-lo honrando a Vida, permanecendo no pleno gozo de tudo o que ela nos proporciona apesar da intervenção multiplicadamente negativa dos homens.

   

A SUBLIME IGNORÃNCIA

Vem isto a propósito de uma ida a uma estação dos Correios para registar uma carta. Havia uma fila grande gente à minha frente e isso deu para observar todos os produtos que por lá estavam expostos. Espantou-me a quantidade livros e, especialmente, a qualidade "didáctica" com que se apresentavam. Todos, sobretudo todas, tinham conselhos a dar sobre a educação de filhos, ainda que fosse através da Astrologia, sobre os diferentes modos de encarar a vida nas suas diversidades e adversidades, sobre o amor, sobre tudo o que lhes vem à cabeça quando lhes dá para escrever. Mulheres decerto inspiradas pelos exitos que terão tido como mulheres ou como mães, o que lhes confere a missão de orientar as outras  nesses caminhos.

 A verdade é que ali estavam  prateleiras e mesas  cheias de conselhos - muito provavelmente insuflados em anos de psicanálise... - apelando ao lazer dos eventuais "clientes", num lugar onde seria de bom-senso e de bom gosto expor os nossos grandes escritores que, no meio desta avalanche de literatura que não tardará um ano sem que seja vendida a peso como papel para reciclagem, se distanciam cada vez mais do convívio com os leitores. Nomes como Eça, Aquilino, Raúl Brandão, Camilo, Paço d' Arcos, Ramalho, Pessoa - este, talvez pelo isoterismo que o envolve, reservado a tertúlias pessoanas - Pascoais, Fialho, e tantos outros grandes escritores e poetas de Língua portuguesa que são lidos em todo o mundo e que ficariam bem nos escaparates convidativos das estações de Correios. Acresce que o funcionário que me atendeu me deu conta da disputa levada a cabo por escrevinhadores e editores no sentido de os seus livros ocuparem os lugares mais chamativos. "Um inferno!".

A verdade é que escrever já não é mais uma actividade lúdica! Poucos são os que ainda escrevem cartas das que eram segredos sobre pensamentos, lugares ou sentimentos directos ao coração dos Amigos, e creio que  menos ainda aqueles que mantêm um diário onde se vão dando conta do caminho percorrido, das suas esperanças, contradições, alegrias, desilusões. Hoje, apesar dos queixumes colectivos, toda a gente diz considerar-se heroicamente feliz ou em vias de o ser, e acha que deve partilhar esse estado de espírito - se tal se lhe pode chamar...- com os "infelizes" que, partindo da generalização do colectivo, andam por aí perdidos  "à la recherche  d'un heureux conseil".

Acontece que a edição tornou-se um modo de vida dos mais rentáveis e com menos empate de capital. Não me refiro, claro, aos Editores com um lugar já consagrado que nos leva a confiar no editado, mas a uma máquina editorial que se serve de tudo o que apareça escrito, desde um slogan de parede aos muitos textos, melhores ou piores, que circulam nas redes sociais. Tudo serve de inspiração a um qualquer "argumentista" que pega na ideia, dá uma volta ao texto para não parecer plágio, tira metade de um comentário do Face e completa-o com algo semelhante que leu no Twitter, recorre às estatísticas para conhecer a medida de "gostos" que merece, e temos romance! Caso valha a pena, põe-se o tradutor automático a funcionar, acrescentam-se na página de edição os nomes de dois ou três amigos como tradutores e revisores, e, caso o escrevinhador se ponha com exigências, pede-se a uma Editora que o aceite como subcontratado para ter direito a um lugar num livreiro.

O mesmo se passa com as publicações de imagens postadas nas redes sociais  que, diga-se, se bem escolhidas dão ricas capas a pobres livros. Melhor ainda se "os business angels" forem chamados a colaborar através do aperfeiçoamento dos desenhos gratuitos  dos internautas. Um negócio primorosamente montado, que não tem nada que o confunda com cultura, uma escrita feita pela máquina e para a máquina, a ciência da ficção em que, creio, o único que poderá ter algum encargo é o escritor desejoso de se ver publicado e aceder assim ao estrelato de um escaparate de um qualquer lugar de venda de jornais e revistas ou, se for bem relacionado, conseguir que um incauto empregado do livreiro lhe coloque o título entre os "top" mesmo que ninguém ainda o tenha comprado.

O panorama cultural português empobrece todos os dias! Seja sendo vítima de expedientes que banalizam pela quantidade o que deveria optar pela qualidade, seja, no inverso, pela falta de escolha de qualidade que os canais nacionais - os únicos a que a maior parte dos portugueses têm acesso - proporcionam. Alem dos noticiários - repetitivos, arrasadores de esperança ou vendedores de mensagens consideradas politicamente corretas pelos emissores - os programas são de uma impressionante miséria e vivem seja de uma espécie de lotarias telefónicas  que muitos acharão convidativas, seja das oportunidades que são dadas aos participantes dos vários programas de gozarem o seu quarto de hora de glória.

Acontece, como vi hoje num qualquer noticiário, Catarina Vaz Pinto - mulher de Guterres? - dar-nos conta de algo interessante que tem que ver com o nosso passado, ainda que tratando-se da Sinagoga de Amesterdão, datada do sec. dezasseis, mandada construir pelos judeus portugueses e primorosamente conservada. Nisso se perdeu, contudo, a oportunidade de dizer que essa riqueza se ficara a dever à exploração das minas de diamantes e outras pedras preciosas levada a cabo pelos judeus no Brasil, com mão de obra angolana e guineeense, durante mais de um século, e que era comercializada na Holanda onde se concentravam os maiores lapidadores de pedras preciosas. Portugal, como sempre, pouco ganhou com isso. E o mesmo aconteceria com as minas de diamantes de Angola... 

A verdade é que ninguém fala de nós! A preocupação com "a imagem" não deve inquietar-nos. Não há jornal ou revista estrangeira que se lembre que existimos, a menos que se trate de Ronaldo - com menção nas páginas centrais no ABC de Madrid -, ou do ex-misnistro Arnaud por algo que envolve as relações da política com a Banca internacional,  com o BES pelo meio

 

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