NÃO ENVELHEÇAS! SÊ ANTES FELIZ!
Apesar de haver muita gente doente ou à procura de doenças, o certo é que os médicos, especialmente os que apontavam para determinados alvos sociais, não estão em fase de muita procura. As pessoas estão a começar a ir ao médico quando estão de facto doentes - geralmente quando estamos doentes, por muito distraídos que sejamos, damos por isso...- ´porque a complexidade da vida pouco espaço lhes deixa para se entregarem a banais doenças e, ainda menos, para ver se descobrem alguma. Só os velhos, curiosamente, têm esse amor à vida. Os outros, os de meia-idade, já só se dispõem a fazer "check up" quando muito instados ou, também acontece, quando pensam residir no corpo o mal que lhes afecta a alma ou encontrar aí um desvio para as suas preocupações existenciais.
O facto tem levado a que certos médicos do tipo "faishonable" - os que procuram criteriosamente os seus nichos de mercado - se vejam por vezes obrigados a um oportuno "upgrade".
Vem isto a propósito de um médico convidado - não sabemos se a pedido do próprio se do apresentador...- para dar a conhecer as suas descobertas no campo do envelhecimento, em um daqueles programas populares com que as televisões preenchem o tempo dos que o têm. calhou-me te-lo e divertir-me a vê-lo.
O médico, sujeito bem apessoado, bem falante e portador de um nome reconhecível entre a "boa sociedade", trazia com ele um Zézé, já por demais conhecido nem sempre pelas melhores razões, que se dispôs, em prol do marketing, a exibir fotograficamente, em boxers, a sua triste figura antes de se ter deparado com a competência do miraculoso médico, e uma segunda na qual tinha, ao que deixou no ar, perdido, além do peso de massa corporal, o peso dos anos. E tudo graças ao doutor que, após ter explicado os motivos que o tinham levado a deixar a área das drogas por ter concluído, ao fim de vários anos de proveitosa clínica, aquilo que qualquer inspector da Polícia com esse sector a cargo já lhe teria dito há muito, ou seja, que o combate à droga passa pelo combate à rede de produtores, traficantes e consumidores. Desgraçadamente as próprias famílias também terão chegado há muito a essa conclusão e percebido que, por mais doloroso, é mais fácil aprender a conviver com o facto do que desgastar-se na cura de situações maioritariamente irreversíveis.
Inteligentemente, o doutor abraçou o mercado onde se situa a clientela mais numerosa, predisposta, e com mais meios financeiros para tentar o sucesso - o que não acontecia com os drogados que constituiam uma terrível sobrecarga familiar de despesas que se adicionavam aos expedientes das exigência do consumo - , ou seja: O ENVELHECIMENTO.
Um regalo ouvi-lo, porque o doutor não descurou nenhuma das vertentes afectadas nem o perfume da sedução no que propunha, com grande simplicidade, para as conter.
O retardar do envelhecimento vai, segundo ele, desde o controlo do peso - aqui nada de novo porque este parece ser hoje um dos flagelos sociais que afecta mais a sociedade que os próprios, alguns com experiência de antepassados obesos que terão "falecido" proximo dos cem anos - , controlo conseguido com espantosa rapidez, a avaliar pelo ZéZé junto, mas também por um desejável emagrecimento da consciência, "objecto" que, segundo um franciscano meu amigo, não deveria existir. O doutor também propunha isso: deitar o passado para trás das costas deixando lá ficar tudo o que pudesse perturbar a consciência - creio ser isso o que os políticos, auxiliados pelos juristas,já aprederam há muito a fazer sem precisarem de recorrer ao médico - , iniciar um presente limpo de post-ocupações, um presente feliz virado para um futuro cuja principal preocupação fosse concentrarmos- nos numa motivação que nos faça felizes. Enfim, ter a FELICIDADE como lema, caminho e meta.O hedonismo como modo de vida, numa época em que a felicidade se mostra tão exigente, e com receituário privado.
É óbvio que, num tempo em que a felicidade - a felicidade a sério e não alienações em compatibilidade com a bolsa ou com a amoralidade - se ausenta com bastante frequência da vida das pessoas e das comunidades, o apelo é extremamente atractivo! E o segredo, se tal se pode dizer, reside no ESQUECIMENTO!
"Varridela" para os que praticam o mal com o gozo que lhes dá poder praticá-lo, se possível mascarado de bem; "conselho" para que os que são dele vitimas esquecerem tudo o que lhes aturaram, a destruição das suas, horas, das suas vidas, dos seus países, dos seus valores, dos fundamentos da sua fé no mundo, etc..
EMAGRECER E ESQUECER! Eis um remédio simples e, tendo em vista o Zézé, de resultados garantidos.
Corremos o risco de voltar a engordar - Christina Onassis, com todos os seus milhões, foi um harmónio...- ou de à hora da morte, como parece ter acontecido com empedernidos ateus, termos um rebate de consciência, com a dúvida pendente entre o perdão e o castigo. Mas nessa altura quem se lembrará daquele médico?